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Zona de exclusão

Área de isolamento ao redor dos estádios exigida pela Fifa gera temor de moradores, comerciantes e até mesmo de hospitais sobre como será o dia a dia durante o Mundial

BERNARDO ITRI
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA E PORTO ALEGRE
EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE, RIO E SALVADOR
MARIANA BASTOS
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA, NATAL E RECIFE
RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA, CUIABÁ E MANAUS

Promessa de geração de empregos, de lucros sem fim e da criação de novos rumos comerciais no Brasil, a Copa-2014 começa a ter seus resultados questionados por quem vive nas cidades-sedes

Essa aflição atinge principalmente os vizinhos dos estádios do Mundial e quem usa essas áreas para obter renda.

Em Curitiba, bares e restaurantes fincados no entorno da Arena da Baixada não sabem como vão trabalhar no período do campeonato.

Como alguns desses estabelecimentos usam em suas fachadas marcas de patrocinadores que não são os da Fifa, os empresários temem ser obrigados a fechar as portas durante da Copa de 2014.

O medo que paira na cabeça dessas pessoas é explicado pela zona de exclusão imposta pela federação.

Para proteger seus patrocinadores oficiais, a Fifa estabelece que em um raio ao redor dos estádios apenas pessoas credenciadas ou com ingressos podem entrar. O raio é de dois quilômetros a partir de cada arena.

Ou seja, nesta área somente produtos licenciados poderão ser vendidos. Há, no entanto, negociações entre as cidades-sedes e a Fifa para remanejar a área de restrição.

Mesmo assim, a insegurança está instalada. E não apenas sobre as questões comerciais. Hospitais situados na zona de exclusão também não têm livre acesso garantido, segundo o Comitê Popular da Copa de Curitiba.

"Temos 15 hospitais na zona de exclusão, um deles especializado em pediatria. Como as pessoas vão fazer para ter acesso a eles na Copa?", indaga Thiago Hoshino, representante do comitê.

A única certeza, por enquanto, é que os moradores da "zona de exclusão" deverão passar por um cadastro especial da Fifa para poderem chegar às suas casas.

O caso de Curitiba é semelhante ao do Rio de Janeiro. A região do Maracanã passa pelas mesmas incertezas.

Em Fortaleza, o drama se repete. "Teremos que chegar a um meio-termo para atender os interesses da cidade e os interesses comerciais da Fifa", argumenta Herbert Lima, gerente executivo da Copa em Fortaleza.

Para ele, preocupa as limitações impostas pelas marcas registradas da Fifa, o que pode prejudicar o ganho de comerciantes locais e artesãos com a Copa. Segundo Lima, a Fifa já patenteou até mesmo a expressão "Fortaleza, cidade-sede da Copa de 2014"

"Como é que vai ficar se, lá em Aracati, onde o pessoal faz as garrafinhas de areia colorida, um dos artesãos resolver colocar o símbolo da Copa? Pela Fifa, isso não pode. É visto como pirataria, mas o artesão não sabe disso. Então, precisamos encontrar meios para que o pequeno produtor cresça durante o evento", conta Lima, lembrando que essa é um preocupação comum das sedes.

A manutenção das tradições locais também é alvo de discussão em Belo Horizonte. O governo de Minas se preocupou com a sobrevivência do tropeirão do 13.

O prato, que traz feijão-tropeiro, torresmo, arroz, couve, ovo frito e pernil de porco, era disputado pelos torcedores que iam ao Mineirão.

Com a criação da esplanada, um bulevar que ocupará o entorno do estádio, a ser gerenciado pelo consórcio que controlará a arena, surgiu o risco de essa tradição culinária, nacionalmente conhecida, extinguir-se.

O governo de Minas entrou em contato com o consórcio e recebeu sinalização de que o tropeirão continuará. Mas, durante a Copa, sua manutenção depende do aval da Fifa, que tem como patrocinadora uma loja de comida.

Em São Paulo, os comércios de comidas devem, no mínimo, passar por uma pressão da federação. Autoridades locais esperam que a Fifa negocie com os estabelecimentos que estamparem marcas de empresas que não são patrocinadores da Copa.

A expectativa é que seja sugerida a troca dos banners e dos produtos dos locais por aqueles que são permitidos na zona de exclusão do Mundial.

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