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Revelação diz que pensou em parar

ATLETISMO
Dono de vaga olímpica no salto triplo, Jonathan Silva enfrentou morte do pai e lesão em 2011

Gabo Morales/Folhapress
O saltador Jonathan posa em pista do Ibirapuera
O saltador Jonathan posa em pista do Ibirapuera

MARIANA BASTOS
DE SÃO PAULO

Um 2011 para esquecer. E um 2012 para ser muito lembrado por Jonathan Henrique Silva, revelação do atletismo brasileiro. Quatro meses separaram o quase abandono do esporte de um feito que tirou o atleta do anonimato.

Há oito dias, o triplista, que nunca tinha vencido a barreira dos 17 m, cravava 17,39 m, a segunda melhor marca do ano. E ainda conquistava índice olímpico do salto triplo, algo também obtido no feminino, ontem com Keila Costa.

"Quando fiz o resultado, a primeira pessoa que veio na cabeça foi meu pai, que morreu há quatro meses. Pensei: 'Eu falei, pai, que ia conseguir'", conta Jonathan, 20, em um dos raros momentos que fechou o sorriso. "O luto ainda persiste", afirma.

Jonathan preferiu não revelar a doença que levou seu pai, Valdecir Silva, à morte aos 46 anos de idade em dezembro de 2011. Era o fim trágico de um ano que já tinha trazido más lembranças.

Durante três meses, teve que se afastar das pistas devido à mais grave lesão de sua carreira. Rompeu o tendão patelar do joelho esquerdo.

"Logo que voltei, fiz o melhor resultado da minha carreira até então: 16,70 m. Acho que estava precisando de descanso", brinca Jonathan, mostrando não ter se abatido por muito tempo com a lesão.

Mas o segundo baque do ano, a morte de seu pai, não foi superado rapidamente.

"Fiquei muito abalado, pensei em desistir, voltar para a minha casa. Não tinha cabeça para treinar."

Jonathan conta que quem o levou a mudar de ideia foram os amigos de pista e os treinadores. Entre estes, Nélio Moura, um dos dois técnicos que mais marcaram a vida de Jonathan e que, para ele, são figuras paternas.

"O Nélio é um treinador-amigo-pai", diz o triplista, acrescentando que já chegou a tomar "um puxão de orelha" devido às notas baixas que tirou na época da escola.

Ambos começaram a trabalhar juntos em 2008, meses antes de outra pupila de Nélio, Maurren Maggi, conquistar o ouro na Olimpíada.

No tripé do salto triplo -força, técnica e velocidade-, o técnico diz que o terceiro é o ponto forte de Jonathan.

"Ele carrega a velocidade até a última fase, com uma cravada agressiva na tábua", explica Nélio. "O salto dele aqui há uma semana me lembrou muito a abordagem da Maurren em Pequim. Se você fechar o olho e ouvir só o ritmo da corrida, parece que é Maurren correndo."

Outra figura paterna para Jonathan é Clóvis Mileu, seu primeiro técnico. Foi ele o responsável por fazer o atleta trocar sua grande paixão, o futebol, pelas pistas. O triplista chegou a jogar nas categorias de base do Varginha Esporte Clube (VEC), atual BOA.

Jonathan é grato até hoje pela insistência do ex-técnico. Um dia após conseguir o índice olímpico, fez questão de ligar para Mileu.

"Ele brincou comigo: 'Nem o VEC existe mais. Se você continuasse no futebol, estaria fazendo o que hoje? Entregando panfleto ou carregando saco de cimento nas costas", conta o atleta que, graças à pequena remuneração que recebe (R$ 1.200 da bolsa-atleta de São Paulo), faz faculdade de administração.

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