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Los gringos - John Carlin

A lição ao xeque

O Manchester City tem todo o dinheiro do mundo, mas não é capaz de traduzi-lo em sucesso

O time de futebol mais rico do mundo fracassou pelo quarto ano consecutivo em realizar o sonho de seu proprietário, o xeque Mansour, príncipe que tem tanto dinheiro no banco quanto a Arábia tem areia no deserto. Se você não torce pelo Manchester City, ficará feliz por saber que a derrota do time ante o Arsenal no domingo sepultou (sob uma imensa duna) toda a possibilidade de ganhar o Inglês.

Por que nos irrita que alguém que disponha de montantes ilimitados invista em criar um time de primeira linha? O problema é que preferimos deixar de lado as sórdidas realidades financeiras e saborear a romântica ideia de que os jogadores de nosso time estejam dispostos a morrer em sua defesa. Mas um clube tão rico como o Manchester City impede que se ignore o dinheiro; é como se o time esfregasse seu dinheiro no nariz dos demais.

Existe uma sabedoria mais profunda no comportamento que nós, devotos do futebol, exibimos. E que pode ser constatada no vasto investimento que o Manchester City faz na contratação de jogadores: 400 milhões de euros (R$ 945 milhões) desde que o xeque adquiriu o time, em 2008. A lição é que ter jogadores excelentes e bem pagos em seu time não basta para conduzir uma equipe ao topo. Dinheiro não é garantia de sucesso ou de amor, que, no futebol, se traduz em admiração ou respeito de parte dos torcedores rivais.

A primeira grande contratação do Manchester City foi Robinho. Não deu certo. Mas o clube continuou contratando grandes nomes sem levar em conta como eles deveriam funcionar juntos: David Silva, Agüero, Tevez, Yaya Touré, Samir Nasri, Balotelli. No papel, têm de longe a melhor equipe da Inglaterra e pareciam sérios candidatos ao título da Champions League.

Mas no gramado o time foi um fracasso horrendo. Falta ao time urgência, paixão, ímpeto. Tevez, o exemplo do futebol mercenário, serve como resumo. Após fazer o equivalente a desertar em tempo de guerra, foi recentemente reintegrado. A ideia teve mau efeito, possivelmente porque parte do elenco não gostou de ver um traidor em campo.

O Manchester City tem todo o dinheiro do mundo, mas não é capaz de traduzi-lo em sucesso. Virou objeto de desdém porque lhe faltam qualidades que os torcedores consideram essenciais: garra, espírito de equipe, amor à camisa. Não basta talento para vencer, valores são necessários. É uma lição óbvia, mas é reconfortante que ela esteja sendo ensinada ao City e ao xeque mais uma vez.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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