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Xico Sá

Santos, 100

Meu Santos, por favor, um presente: chega de humilhar o mundo inteiro. Fica Peixe

Amigo torcedor, amigo secador, o Santos faz cem anos, igual à mamãe do Carlos Saura, grande diretor de cinema, então eu queria aproveitar a oportunidade para pedir um presente ao aniversariante: chega de me dar alegria, títulos, glórias, eu já te amo o bastante, por favor, não exagere.

Estava ali, satisfeitíssimo pela história, e vem esse menino. Era eu indo como um dos Reis Magos e, em vez de levar um mimo, eu que era o presenteado. Assim é torcer pelo Santos. Lá estava o Neymar na manjedoura, dando uma bicicleta com estrelas imaginárias como o teto daqueles quartos mágicos de crianças.

Chega, meu Peixe. Ganhar tem limites. A gente sabe que a vida não repete essa metáfora. Por favor, me decepcione só uma vez: não triunfe. Cansei de ter o melhor jogador do mundo de todos os tempos, aquele negão que ninguém sabe o nome. Cansei de ter de novo o cara, infinitamente melhor que Messi e Maradona. Cansei. Saco.

Cansei de estar sempre no jogo dos melhores. Sim, perdemos para o Barça, mas ali era outra coisa, outra linguagem, outro software, pusemos o disco errado no videogame. Coisas que só acontecem uma vez. Se jogar dez, ganharemos nove vezes e meia. Batata. No tengo dudas.

Meu Santos, por favor, um presente: chega de humilhar o mundo inteiro. Fica Peixe.

O mais carioca dos times paulistas, como queria o tio Nelson Rodrigues, padrinho espiritual desta coluna. Sim, o Santos tem que mandar jogos no Rio quando reabrir o Maraca. O mais brasileiro dos escretes, o maior de todos os tempos, o 11 da infância e da adolescência do meu amado doutor Sócrates, que sempre me falava das virtudes do Coutinho.

Mas por favor, alvinegro praiano, chega de glórias. Já deste tudo para essa gente que te gosta. És o maior disparado, então para que essa panca toda? Fica Peixe, esquece, toca de lado.

Como disse no filmaço da Lina Chamie, o da arte do centenário, a ordem é a seguinte, no mundo dos inventores de linguagens: Dostoiésvski, Tolstói e o Santos Futebol Clube.

O resto é pelada. Nada conta o baba, o pega, a várzea, te peço, caro aniversariante, chega de me dar presentes e de nos tratar como viciados em fazer história.

Isso não é justo. Isso não reproduz a vida, embora entenda que viver é pedalada, sobrevivência, trem lotado, ginga, te peço: fica Peixe. Não me vem de novo com mais cem anos de superioridade.

xico.folha@uol.com.br
@xicosa

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