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Dupla Função

Membro da cúpula da Fifa, Marco Polo Del Nero envolve-se em processo judicial pelo controle de estádio da Copa-14 ao mesmo tempo em que tomará decisões sobre evento

RODRIGO MATTOS
DE SÃO PAULO

Marco Polo Del Nero, novo membro da Fifa e mais influente cartola junto à presidência da CBF, tem um escritório de advocacia que defende uma empresa em ação judicial na disputa pelo controle de estádio da Copa-2014.

O dirigente foi nomeado no final de março para o Comitê-Executivo da Fifa. Na ocasião, a entidade determinou que todos os membros fariam parte de seu grupo para "tomar decisões", "monitorar" e "organizar" o Mundial.

Ou seja, ele participa de fórum que decide sobre aspectos dos estádios da Copa.

Um mês antes da nomeação do dirigente à Fifa, seu filho, Marco Polo Del Nero Filho, e Paulo Sérgio Feuz, ambos advogados de seu escritório, pediram medida cautelar para o grupo BWA contra a Galvão Engenharia em disputa pela Arena Castelão, sede do Mundial em Fortaleza.

Questionavam a exclusão da empresa do consórcio para gerir o estádio.

Em seu artigo 5º, o Código de Ética da Fifa prevê que seus dirigentes têm que evitar conflitos de interesses entre suas funções na entidade e seus negócios privados.

A relação de Marco Polo com a BWA vai além da ação do Castelão. A empresa diz usar os serviços do escritório do dirigente desde 1998.

"Por que contratei [o escritório de Del Nero]? Gozado. Tenho todos os recibos desde 98 de que pago o escritório. Ele me dá manutenção preventiva. Ele que faz todos os meus contratos. Ele que faz todos os meus negócios jurídicos", contou Bruno Balsimelli, sócio da BWA.

Ele não revelou quanto paga, mas diz que dá valores extras em casos grandes.

Se Marco Polo, o advogado, tem a BWA como sua cliente. Marco Polo, o cartola, contratou a empresa para prestar serviços para a FPF (Federação Paulista de Futebol), entidade que preside.

Foi a BWA a escolhida desde 2007 para fazer o cadastramento das torcidas organizadas no Estado. Após uma interrupção no serviço, a federação fez contrato mais recente, no mês passado, com a empresa, por R$ 14 mil/mês.

"Aqui não há necessidade de fazer licitação. Aqui é uma empresa privada. A gente contrata quem a gente confia. Decisão da presidência", contou Marcos Marinho, chefe do departamento segurança da federação.

Outro diretor da entidade, no departamento jurídico, é justamente Paulo Sérgio Feuz, o advogado que representa a BWA no processo judicial da Arena Castelão.

Nessa ação, ele obteve uma liminar para que a empresa reassumisse a gestão do estádio, mas a medida foi anulada em seguida pela Justiça.

A BWA, no entanto, disse que já retirou a ação e que chegou a um acordo com a Galvão Engenharia -isso não está registrado no tribunal.

Segundo Balsimelli, a empresa assumirá a gestão do estádio como previsto.

"A ação já foi retirada. Já foi encerrado esse caso",

explicou Balsimelli. "A Galvão vai embora em outubro, e nós vamos assumir definitivamente lá [no Castelão]"

A Galvão Engenharia não quis se pronunciar. É ela quem faz, de fato, a reforma do estádio de Fortaleza.

Juntamente com a BWA e outras empresas, a Galvão ganhou licitação do Estado do Ceará para, por meio de Parceria Público-Privada, construir, gerir e manter a arena.

"É uma briga judicial entre as duas partes. O governo não tem nada com isso. Para nós, é indiferente", afirmou o secretário de Esporte do Ceará, Ferrucio Feitosa, sobre a disputa judicial e a participação de um cartola da Fifa nela.

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