Índice geral Esporte
Esporte
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Juca Kfouri

O racha na CBF

Depois de duas décadas de poder monolítico surgem fissuras no comando do futebol

MARCO POLO Del Nero assumiu a presidência da Federação Paulista de Futebol (FPF), em 2003, no lugar de Eduardo Farah, que, cansado de oficiais de Justiça à sua porta, abandonou o cargo para que um de seus vice-presidentes, Reinaldo Carneiro Bastos, o assumisse -fruto de um acordo com quem tinha o direito, o vice mais velho, exatamente Nero.

Que, segundo o traído Farah gostava de contar, não cumpriu o acerto porque "na hora em que o revelou para sua família, à mesa do jantar, foi forçado a honrar as calças que vestia". Hoje Nero é o mais poderoso cartola do futebol brasileiro, ventríloquo de José Maria Marin, com assento na Fifa e na Conmebol e em vias de assumir um formal na CBF, o da vice-presidência, e se habilitar inteiramente para ser o próximo presidente.

Mesmo que à custa de uma óbvia rachadura nas relações entre as federações estaduais, algo que a cara fechada, os maus modos e as mesadas do período que se encerrou depois de mais de 20 anos não permitiram jamais.

Se Marin é o oposto do antecessor na fachada, porque político tradicionalíssimo, de sorriso fácil e melífluo, nem assim conseguiu administrar a demagogia de um cartola do Rio que inventou outro octogenário (e nada contra a "melhor idade"), Mário Jorge Lobo Zagallo, apenas para sinalizar o velho e estúpido conflito do bairrismo no eixo Rio-SP, mesmo que o ex-treinador seja alagoano como, aliás, Ricardo Teixeira é mineiro. Nem o presidente da Ferj, o da FPF, nem muito menos o da CBF servem para o que deveria ser o novo futebol brasileiro, com liga dos clubes, gestão empresarial, calendário adequado ao mundial, estádios apresentáveis com gramados dignos de serem pisados e horários compatíveis com o interesse público e do público.

Mas o vácuo de poder que está posto permanece vago, porque ninguém tem coragem de fazer nada até pelo menos depois da Copa do Mundo. Uma bobagem que tem como argumento o fato de o contrato com a Globo vigorar até 2015, como se o dinheiro comprometido fosse tudo -apesar de todas as rupturas e reformas que se fazem necessárias mesmo com a limitação aludida.

Em vez disso o que se vê é o repeteco da gestão Marin no governo paulista, pós-Maluf. Marin fala em continuidade e homenageia o antecessor, mas substitui gradualmente todos os homens de confiança dele -como já fez em três postos estratégicos na CBF. E Nero, homem do reverendo Moon no Brasil, reina. Reinaldo? Compôs, é claro!

blogdojuca@uol.com.br

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.