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Barba e bigode

Melhor levantador da Superliga, William diz que quase deixou vôlei após morte de pai em acidente aéreo e prevê duelo com Ricardinho

Fabio Braga/Folhapress
William treina, em São Bernardo do Campo, para a final da Superliga
William treina, em São Bernardo do Campo, para a final da Superliga

MARIANA BASTOS
DE SÃO PAULO

William Arjona, do Cruzeiro, já planeja fazer a barba para a final da Superliga, amanhã, às 10h. "Quero deixar o bigode e homenagear o meu pai", conta o levantador, 32.

Seu pai, conhecido pelo mesmo nome, foi um dos 99 mortos no acidente do Fokker-100 da Tam, em 1996. O avião falhou ao decolar de Congonhas e acabou se chocando com prédios e casas próximos ao aeroporto.

"Ele está lá em cima, olhando. Ele me apoiava muito no vôlei, mas era também extremamente rígido. Dizia que eu tinha que ser o melhor senão não ia jogar", afirma.

William seguiu à risca o ensinamento do pai.

Pelo segundo ano consecutivo, ele lidera as estatísticas de aproveitamento no levantamento, superando inclusive o seu rival de amanhã, o superbadalado levantador do Vôlei Futuro, Ricardinho.

Curiosamente, seu primeiro prêmio individual foi conquistado menos de um ano após a morte do pai, quando atuou pela seleção brasileira no Mundial infanto-juvenil.

"O prêmio de melhor levantador era tudo o que eu precisava para continuar na minha carreira", diz.

Antes do Mundial, William cogitava abandonar o vôlei. Após a tragédia, ele sentia a responsabilidade de assumir o papel de "homem da casa" e passar a sustentar sua mãe e suas duas irmãs.

"Eu tinha 17 anos e não ganhava nada financeiramente com o vôlei ainda. Precisava arrumar um emprego, mas duas pessoas me fizeram mudar de ideia. Minha mãe disse que ainda tinha reservas e que eu poderia me dedicar ao que eu mais gostava."

A outra pessoa foi Percy Oncken, técnico da seleção de base. Antes do Mundial, o treinador estimulou William a compartilhar os sentimentos com todo o grupo em um treino na praia em Maceió.

"Ele falou sobre o pai e desabou em choro forte. Foi uma das coisas mais marcantes em termos emocionais da minha carreira", diz Oncken.

Em seguida, o técnico fez um discurso falando que seria um desperdício se William abandonasse o vôlei.

"Ele me inspirou quando disse que eu teria condições de servir a seleção principal, de ser um grande jogador. Foi ele quem disse as palavras que eu gostaria de ter escutado do meu pai. Isso foi fundamental para mudar de ideia", conta o levantador.

William, de fato, tornou-se um grande jogador, mas seleção ainda permanece sendo um sonho quase remoto, apesar de ter tido grande desempenho nos últimos anos.

Entre 2006 e 2010, jogou na Argentina, onde foi eleito duas vezes o melhor levantador do campeonato. Lá, virou ídolo, ganhou a alcunha de "Mago" e quase se naturalizou, algo que não ocorreu por questões burocráticas.

"Talvez o Campeonato Argentino não tenha muita visibilidade aqui", afirma William, tentando encontrar uma justificativa para não ter sido lembrado por Bernardinho no último ciclo olímpico.

Até mesmo Ricardinho, que busca vaga na seleção, diz que o amigo já merecia ter tido uma chance. "Torço para que isso ocorra. Ele tem um estilo bonito de se ver", diz o atleta do Vôlei Futuro.

Rivais na final, rivais por uma vaga na seleção, mas amigos fora da quadra desde 2001. Curiosamente, naquele ano, Ricardinho foi contratado pelo Suzano e roubou a titularidade de William.

Ressentimentos não ficaram. Ambos preveem um bom duelo amanhã. "Quando a gente se enfrenta, a gente olha para o outro quando faz uma boa jogada. Isso vai acontecer sempre, mas com respeito. O importante é se divertir", diz William.

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