Motor

Smith, Carlos, Norman e a chance perdida pela F-1

O pódio mais célebre da história olímpica é o dos 200 m nos Jogos do México-68. Tommie Smith, ouro, e John Carlos, bronze, levantaram os punhos, calçados com luvas pretas, e abaixaram as cabeças durante o hino americano.

Era o gesto dos Panteras Negras. Um ato contra a discriminação racial nos EUA.

O australiano Peter Norman, prata, soube do plano e os apoiou: colou no uniforme um emblema pelos direitos humanos.

A manifestação teve reflexos para os três. Foram punidos pelos comitês de seus países, mas essa foi a parte fácil. Carlos viu a mulher se suicidar, pressionada. A mãe de Smith morreu de ataque cardíaco após receber ratos mortos e esterco pelo correio.

Nenhum deles jamais se arrependeu. E a explicação talvez esteja simbolizada num mural que há em Sydney, patrimônio da cidade. É um desenho do trio, sobre a frase: "Três pessoas orgulhosas".

Depois daquilo ficou difícil alguém dizer que o esporte não tem mensagens a passar, que deve ficar restrito às quatro linhas, que é só diversão. Sim, o esporte pode formar mais do que bíceps e tórax.

E perdeu enorme chance nesta semana de formar um pouco de consciência.

Ao embarcar para o Bahrein, a F-1 passou recibos de alienação e de ganância. Ao entrar na pista de Sakhir, alinha-se a um regime que é alvo de protestos populares há mais de um ano e cuja repressão já causou mortes. Sem parar para pensar, para debater, para entender se é daquele lado mesmo que deveria estar. Isso para não entrar na questão de segurança de todos os envolvidos...

Lamentável, mas compreensível para uma categoria que tem no seu histórico boicotar o boicote global à África do Sul do apartheid.

Fora das pistas, mais uma vez, a F-1 passa longe do esporte. E de qualquer nesga de orgulho.

BRASIL-1

MARCHA A RÉ

Falando em ganância, correr de kart no Brasil está cada vez mais caro. Daí que cada vez menos pilotos são formados. Daí que a F-Futuro, categoria criada por Massa para ser uma escola para pilotos recém-saídos do kart, fechou as portas. Daí que o automobilismo de fórmula por aqui vai acabar. Daí que é melhor você começar a gostar da Stock. Ou de MMA.

BRASIL-2

MARCHA LENTA

O Conselho Municipal de Meio Ambiente do Rio deu parecer contrário à construção do autódromo em Deodoro. A recomendação, que não tem poder de veto, alega que ali é área de Mata Atlântica. Eduardo Paes diz que não acatará o documento, mas integrantes do conselho já acenam com ações judiciais caso isso aconteça. A novela está longe de um desfecho.