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Fifa sabia de desvios, diz procurador

CASO ISL
Procurador dá indício contra Teixeira em esquema de corrupção e complica Blatter

RODRIGO MATTOS
DE SÃO PAULO

Um depoimento de um procurador suíço revelou dados oficiais que indicam o envolvimento do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e do ex-presidente da Fifa João Havelange no escândalo da ISL, maior caso de corrupção da história do futebol mundial.

Até hoje, o envolvimento do ex-dirigente da confederação era relatado pela BBC. Contra Havelange, havia indícios em processos judiciais.

As informações de Thomas Hildbrand, procurador do processo, as primeiras que explicam o caso apesar do sigilo judicial suíço, complicam o presidente da Fifa, Joseph Blatter. A entidade, que o tinha como secretário-geral à época, sabia dos subornos a dirigentes de sua cúpula.

Ao Conselho da Europa, órgão não governamental que investiga a Fifa, o procurador, em março, detalhou:

1. Nos anos 90, o grupo ISL comprou da Fifa direitos de marketing e TV das Copas.

2. Em 2001, a ISL entrou em falência, o que gerou ações de credores. Constatou-se subornos a cartolas. Um devolveu dinheiro, mas se iniciou o caso criminal em 2005.

3. Na ação, membro da gerência da ISL disse que "o favorecimento de personalidades no esporte" com dinheiro da empresa "datava de 1970". (A ISL explorou direitos de Copas e Olimpíadas.)

6. A procuradoria constatou R$ 327,8 milhões em propinas para dirigentes.

7. Os dois cartolas da Fifa acusados na ação (denominados E e H) ganharam 21,9 milhões de francos suíços (R$ 26 milhões) através de empresas ou diretamente, de 1992 a 2000, em 30 pagamentos.

8. Um cartola estava na Fifa no início de março último, e o outro não. Eles eram sócios em empresa para receber da ISL. (Havelange e Teixeira eram os únicos membros do Comitê-Executivo da Fifa com relações comerciais no Brasil, além do parentesco.)

9. O "cartola H" era membro do comitê e presidente de "uma associação de futebol da América do Sul". (Só havia dois, Teixeira e o argentino Júlio Grondona, que nunca foi implicado no caso ISL.)

10. O "cartola H" ganhou subornos de 12,7 milhões de francos (R$ 26,3 milhões). "H enriqueceu com o montante das comissões pagas". Ele operou contas em Andorra -em nomes dos filhos- para devolver dinheiro à ISL.

12. O "dirigente E" ganhou 1,5 milhão de francos suíços (R$ 3,1 milhões). É um cartola "sênior da Fifa" e idoso.

13. "Ficou claro que o ISMM/ISL Group (...) pagou significativas somas a dirigentes de futebol, e a Fifa sabia disso e esteve envolvida na composição dos procedimentos", disse Hildbrand.

O Conselho da Europa diz que é "difícil imaginar que Blatter não sabia disso [subornos]". Ele não sofre acusação formal na ação.

O acordo para o final do caso ISL, em 2010, envolveu multas aos cartolas. Ações barraram a revelação dos nomes, e há briga na Justiça para publicá-los. A Fifa prometeu abrir, mas não o fez.

Teixeira renunciou à CBF uma semana após o depoimento de Hildbrand.

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