Índice geral Esporte
Esporte
Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros

Spider Man

Garoto do Bronx que imitava o Homem-Aranha em festas infantis é a nova promessa da ginástica dos EUA

MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A DALLAS

Tudo mudou quando os alunos do Instituto Felisa Rincon de Gautier, uma escola do Bronx, em Nova York, viram John Orozco na TV.

O garoto das piruetas, alvo favorito dos ataques dos meninos mais velhos, aparecia na tela, no pódio, todos falavam dele, era a nova promessa da ginástica dos EUA.

"Antes, as pessoas diziam: 'Olha lá, é John Orozco, aquele ginasta ou sei lá o que, meio gay, pulando por aí'. Depois, mudou para: 'Oh, é John Orozco, ele está indo para a Olimpíada, eu conheço aquele cara'", conta o atleta, bronze no último Mundial com a equipe dos EUA.

Filho de porto-riquenhos, Orozco, 19, cresceu em uma vizinhança violenta do Bronx. Fã de taekwondo por influência de parentes, descobriu a ginástica artística por acaso.

O pai, William, funcionário aposentado do Departamento de Saneamento de Nova York, certa vez viu o anúncio de uma academia e pediu ao dono uma chance para seu filho. As aulas eram para maiores de nove anos, mas Orozco, aos oito, foi aceito.

Um ano depois, percebendo o potencial do garoto e ciente da falta de dinheiro de sua família, o técnico ofereceu a ele treinos de graça.

Damaris, a mãe, gastou boa parte da última década dirigindo todos os dias 50 km na ida e 50 km na volta para levar o filho à academia.

Daquele ginásio saíram 14 ouros em três Nacionais júnior seguidos, de 2007 a 2009. Em 2010, Orozco passou por cirurgia no tendão de aquiles. De volta ano passado, levou uma prata e dois bronzes na competição de adultos. Agora, já mira Londres.

"Minha vida poderia ter sido diferente, mas eu tenho ótimos pais", diz o ginasta. "Minhas melhores lembranças de criança são as idas ao parque com minha família."

Outra parte da infância ele prefere esquecer. Mais novo de cinco irmãos, assistiu ao mais velho se envolver com gangues e ser atacado diversas vezes. Ele mesmo foi alvo de mais de 20 garotos certo dia quando voltava da igreja. Tinha apenas 12 anos.

"Alguém viu facas e armas e chamou a polícia. E eles sumiram, mas foi por pouco."

Apenas no fim de 2010 Orozco ganhou a chance de morar no centro de treinamento da equipe norte-americana em Colorado Springs. Foi para lá se recuperar da lesão.

Os pais ainda moram na mesma casa no Bronx.

"Eu não posso mentir, lá é perigoso. Estou sempre preocupado com meus pais. Não vejo a hora de ter dinheiro para tira-los de lá, porque eles não precisam mais daquele estresse", afirma o ginasta.

Para viver do esporte, Orozco se dividiu por quase dez anos entre treinos, viagens para competições, aulas, lição de casa e bicos. Trabalhava entre os treinos, no verão e aos fins de semana.

"A academia recebia festas de aniversário. Meu trabalho era falar com as pessoas, fazer com que se divertissem e apresentar umas demonstrações de ginástica", diz.

"Em um número, eu pulava em um tipo de trampolim e grudava na parede. As crianças enlouqueciam. Me viam na rua e gritavam que eu era o Homem-Aranha."

Agora poderão vê-lo na TV. Competindo pelos EUA na Olimpíada de Londres.

Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.