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José Roberto Torero

Quanto é um triz?

O triz é um fio de cabelo, uma fina linha que separa o fracasso retumbante da vitória gloriosa

Ninguém sabe direito quanto tem, vale ou cabe num triz. E olhe que ele pode ser medido de diferentes formas. Em centímetros ("Não bati o carro por um triz"), em segundos ("Por um triz o marido dela não me viu pulando a janela"), em gramas ("A roupa não coube por um triz") ou em quilômetros por hora ("O zagueiro chegou atrasado por um triz").

E a palavra ainda serve para medir coisas incomensuráveis, como em "Por um triz eu não casei com a Maricleide".

O termo parece vir do grego trikhós, que quer dizer pelo, fio de cabelo. E seu significado é algo como "quase", "por pouco" ou "por um tantinho assim", dito com o indicador e o polegar se aproximando ao máximo mas sem se tocarem.

Obviamente, o futebol é o esporte do triz.

Para exemplificar, vejamos os trizes dos jogos da Libertadores no meio da semana. O primeiro e óbvio foi o do Fluminense, que não se classificou por um trizinho. No caso, o gol de Santiago Silva, aos 45 do segundo tempo. Um triz tristíssimo.

O Fluminense tem um dos melhores elencos do Brasil e, mesmo desfalcado de Fred e Deco, talvez seus dois principais jogadores, fez um bom jogo e teve chance de fazer 2 a 0. Só que não fez. E no último minuto tomou o gol decisivo, o golpe final, o soco cruel que não deixa o outro pugilista levantar.

Logo depois, outro carioca sofreria por conta de um triz. Ou de dois trizes.

O Vasco lutou bravamente, espanando a bola de sua área de todas as maneiras, enquanto o Corinthians martelava golpes imprecisos, tal qual um marceneiro vesgo que apenas entorta os pregos.

Foi então que o time da Cruz de Malta teve a grande chance do jogo. Diego Souza ficou cara a cara com o goleiro e tocou com perfeição. Mas Cássio fez uma defesa mais-que-perfeita, daquelas que o verdadeiro corintiano tem que enquadrar e por na mesinha do trabalho, ao lado da foto da esposa segurando o filho recém-nascido. E depois, a um triz do final, Paulinho triscou a cabeça na bola e fez o gol da vitória.

No terceiro jogo de brasileiros, o Santos se classificou por um triz. Foi na disputa de pênaltis, e nada é mais triz do que isso, pois se recorre às penalidades máximas apenas quando tudo empata, quando não há trizes. E foi Léo, que tinha dado o passe para o gol de Alan Kardec, quem cobrou a quarta penalidade e classificou o time. Léo foi o homem que salvou o Santos por um triz.

O triz é cruel e salvador. Depende de que lado do triz você está. Para quem ganha, é alegria jorrando em chafariz. Para quem perde, é cicatriz.

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