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Edgard Alves

Nem Baku, nem Doha

A cartolagem do COI parece andar ressabiada após os últimos escândalos que deixaram feridas

Nem a crise econômica que assusta a Europa, e que provocou a desistência de Roma, nem as dificuldades do Japão na crise nuclear de Fukushima impediram que Istambul, Madri e Tóquio continuem na disputa para organizar os Jogos Olímpicos de 2020. Doha e Baku foram descartadas pelo Comitê Olímpico Internacional. A decisão, anunciada na semana passada, passou sem contestações. Restou a impressão -saudável, se correta- de que a cartolagem anda ressabiada e temerosa, especialmente após os escândalos de corrupção que deixaram feridas abertas tanto no COI como na Fifa nos últimos tempos.

Não que houvesse qualquer sinal de irregularidade no processo em andamento. Mas lá estava Doha, com os petrodólares do Qatar. O país apresentava uma candidatura olímpica pela segunda vez, e tinha como ponto forte o aspecto financeiro, que não foi suficiente para convencer os dirigentes a aceitarem a proposta de realizar os Jogos em outubro, fugindo do forte calor de agosto, e num país com apenas 2,5 milhões de habitantes.

Entretanto, em outra disputa semelhante anterior, a da Copa-2022, o país foi o vencedor. E deu o que falar por causa de suspeita de corrupção. O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, chegou a enviar e-mail a um dos membros do Comitê-Executivo da entidade no qual afirmou que o país árabe "comprou" a realização do evento. Um escândalo. Valcke confirmou a veracidade do documento, mas alegou que não acusava o país de obter voto de forma irregular, e que somente usara um tom mais informal.

Agora, o Qatar tentava repetir a dobradinha do Brasil, promotor da Copa-2014 e da Olimpíada-2016, cujas candidaturas transcorreram sem acusações que despertassem a atenção. Foi inacreditável o Brasil concorrer como candidato único no caso da Copa. Entretanto, dois dos seus caciques esportivos acabaram atingidos por anteriores denúncias de recebimento de propinas: João Havelange, ex-presidente da Fifa, além de membro do COI, onde também desfrutava de enorme prestígio, e Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF e do comitê organizador da Copa, e membro da Fifa. Ambos renunciaram aos seus postos.

A eliminação de Baku, capital do Azerbaijão, já era esperada. Também realizava a segunda tentativa, sem muita sustentação, e sua proposta não cativou os membros do comitê. Tudo isso parece indicar um bom caminho, mesmo que possa ser apenas reflexo de um susto, trazendo à lembrança o velho ditado: "gato escaldado tem medo de água fria".

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