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Corintiano

Tite vê time cheio de astros, revela se cobrar mais que a torcida e diz que treinar o Corinthians é diferente

LUCAS REIS
DE SÃO PAULO

Não foi a primeira vez que Tite ficou com os olhos marejados ao falar da torcida do Corinthians. "É diferente de todas", disse ontem à Folha.

Em meia hora, o técnico deu recado à torcida sobre o time e Alessandro, falou sobre marketing pessoal, sobre a ausência de astros no elenco e disse que gostaria de falar menos. No fim, sorriu ao ser questionado se virou corintiano -e respondeu do jeito Tite de responder.

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Folha - O que precisa mudar para o jogo contra o Santos?
Tite - Eu não consigo ver o terceiro passo sem dar o primeiro. E o primeiro é preparar bem a equipe contra o Figueirense [pelo Brasileiro]. O futebol mostra que os caminhos são assim, um passo cada vez.

Boa parte da torcida está preocupada com o lado direito, especificamente Alessandro...
Para essa boa parte da torcida que está preocupada, que fique muito tranquila, porque o Alessandro voltou e fez uma bela partida contra o Atlético-MG. E que ela [torcida] tenha muita tranquilidade porque ele tem a qualidade comprovada, tem maturidade, experiência, e já está readquirindo aquele ritmo normal de competição.

Teme que erros como os que custaram a derrota para o Atlético e a quase eliminação contra o Vasco se repitam e sejam fatais para uma queda?
Observação, diagnóstico e correção, treinamento pra correção. A efetividade precisa ser traduzida, estamos trabalhando em cima do ajuste de um jogador ou outro. Se não tem um jogador específico, um [camisa] 9 pra fazer gol, o Liedson retomar sua melhor condição, o Elton poder dar uma condição e um ritmo melhor.

Não ter um grande astro no seu time é uma vantagem?
Tenho uma série de grandes astros dentro de suas características. Tenho Chicão, que já é multicampeão, Castán, que faz um campeonato extraordinário, Fábio Santos, que se firmou na carreira, Alessandro, multicampeão aqui etc. Cada um em um determinado ponto. Não tem o cara, mas em cada jogo, ou a cada oportunidade, pode surgir o cara, não é sempre o mesmo. Ela dilui um pouquinho pra cada um. Não é o Ronaldo Fenômeno, mas é um pouquinho de cada um em algum momento. Existe o cara, mas ele é [o cara] a cada partida, a cada duas partidas.

Qual seu termômetro da torcida em relação ao seu trabalho?
O termômetro talvez tenha sido eu no meio da torcida, contra o Vasco, quando um torcedor gritou: "Tite, tira o fulano". Quando ele abriu a boca pra falar, a massa inteira foi em cima dele: "Apoia e cala tua boca". O carinho do torcedor com o clube, os atletas, o apoio. Ela [a torcida] tem confiança na seriedade dessa equipe. O torcedor acredita na seriedade daqui, que ninguém aqui está para sacanear, passar tempo.

Qual o tamanho da pressão em ser o técnico do Corinthians em uma semifinal da Libertadores?
Eu sou um cara que me cobro muito. As pessoas dizem que eu sou ponderado. Eu sou um cara pilhado, sou irrequieto, sempre procurando algo mais. Eu sou educado porque tive uma boa educação familiar, mas um cara muito competitivo, pois também fui educado de forma competitiva. Se eu perder e for no jogo, o cara foi melhor, aceito. Mas não queira tomar algo que eu tenha por direito. Essa responsabilidade trago muito comigo. Isso me moveu, mais o respeito ao clube e ao torcedor me moveu a estar na beira da torcida. Não fui ali por marketing, eu não sou marqueteiro. Sou um cara tímido. Não gosto muito de entrevistas coletivas: palavra. Se pudesse ficar só no trabalho de campo, eu evitaria [a entrevista coletiva]. Já pedi pra eles [assessoria] uma porrada de vezes pra ficar só uma vez por semana.

Você se esforça para ter uma boa relação com a imprensa e para evitar polêmicas?
Não forço, é o meu natural. Eu sou assim. Mas eu sou um cara muito preparado. O maior preparo é minha educação familiar, o meu berço. E depois, tem alguns detalhes: estou na bola desde os 16 anos jogando. [...]
E eu não sou amigo de todo mundo. Tenho inimigos. É que eu não faço questão de expor de forma pública.

Está pronto para ganhar a Libertadores?
Não sei se está pronto, mas está se aprontando faz tempo. É a sétima Libertadores!

Esse discurso geral de minimizar a obsessão pelo torneio, tirar a pilha do torcedor, foi planejado por vocês?
Tirar a pilha do torcedor, não. Vamos ficar pilhados, mas priorizar o próximo passo. Isso, estrategicamente, a gente fez, sim. E essa já é a terceira Libertadores seguida.

Gostaria de treinar a seleção?
Eu gostaria de ser campeão da Libertadores com o Corinthians.

E de treinar a seleção?
Eu gostaria de ser campeão da Libertadores com o Corinthians.

Mas um dia, talvez?
Uma grande caminhada sempre se dá com o próximo passo, é um provérbio chinês.

Você passou por vários clubes. Por que treinar o Corinthians é diferente?
O Corinthians tem uma torcida que incentiva o tempo todo. Grandes clubes, Grêmio, Inter, Atlético, Palmeiras, em todos eu senti grande parte da torcida fechar com a equipe em alguns momentos ou na grande maioria da partida. Mas o tempo inteiro apoiando eu só vi no Corinthians. Por isso ela é diferente. Na hora do trabalho, me apoia; depois, me cobra.

Teme uma cobrança da torcida em caso de eliminação, como ocorreu contra o Tolima?
A única busca é respeito e integridade física. A manifestação democrática é do jogo. Da violência, não.

E você virou corintiano?
Amo aquilo que faço e me identifico muito com o clube onde eu estou. Quanto mais tempo a gente fica, quanto mais vitórias e reconhecimento, tu sente o calor humano das pessoas. É humano.

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