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Uso regular de analgésico aumenta risco no esporte

SAÚDE Remédio foi utilizado por 60% dos atletas presentes na Copa-2010

DE SÃO PAULO

Às vésperas da final, o médico Jomar Souza estava absolutamente convencido de que o goleiro titular não poderia ir a campo por causa de uma grave lesão no ombro.

"Doutor, dá a injeção que eu quero jogar", pedia insistentemente o jovem arqueiro, de olho na primeira chance de aparecer no futebol.

Suplicava uma dose de analgésico que lhe faria esquecer a dor, embora nada fizesse para combater a lesão. O goleiro não queria estar curado. Queria jogar. Souza negou. "O reserva entrou, o time foi campeão, e ele demorou para me perdoar."

A Fifa mandou um alerta para jogadores e médicos que não respeitam limites na hora de usar ou receitar remédios para mascarar a dor.

Relatório da entidade divulgado recentemente mostra que 39% dos atletas que disputaram a Copa da África do Sul entraram em campo sob efeito de analgésicos.

E 60% dos mais de 700 jogadores do Mundial usaram remédio contra dor ao menos uma vez durante o torneio.

A prática não é ilegal. Mas o uso regular de analgésicos é ruim à saúde dos atletas. A dor é um sinal dado pelo corpo de que algo está errado.

"Se o atleta vai ao jogo sob efeito desse tipo de substância, vai aumentar a lesão sem perceber", diz Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. "O ideal é não usar [analgésico], principalmente se o objetivo for jogar."

A preocupação da Fifa também decorre da constatação de que o hábito de se medicar antes das partidas tem aumentado bastante entre os jovens. "Desde o sub-15, já tem que ter muita competitividade. Eles passam a usar essa substância já nessa idade e continuam usando quando adultos", afirma Souza.

Às vezes, a ordem vem de cima. Quando o zagueiro do Liverpool Tommy Smith disse que não podia ir a campo por causa de uma lesão no joelho, ouviu do técnico a frase que marcaria sua biografia. "Filho, não é o seu joelho. É o joelho do Liverpool."

Décadas depois, o santista Paulo Henrique Ganso sofreria também com dores no joelho. Postergou o quanto pôde a cirurgia para não desfalcar sua equipe em partidas decisivas no Paulista e na Libertadores. Jogou três vezes sob efeito de analgésicos.

Muitos outros admitem que agiram da mesma forma quando o corpo deu sinais de esgotamento: Ronaldo, Kaká, Marcos... a lista é longa.

Os médicos, porém, não recomendam que um atleta tome injeções com antiinflamatório e anestésico no local da lesão, as conhecidas infiltrações, e vá jogar em seguida.

Dizem que 48 horas de repouso devem ser respeitadas entre a aplicação e o esforço físico.

(ADRIANO WILKSON)

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