Juca Kfouri

O pênalti inexistente

O Uruguai já havia sido bicampeão mundial, mas se dizia, então, à luz do rigor dos dicionários, que o Uruguai era duas vezes campeão mundial, em 1930 e 1950, porque bi só era considerado quem ganhasse duas vezes seguidas.

A Itália, não.

Era uma autêntica bicampeã, pois vencera as Copas de 1934 e 1938.

Em 1962, o Brasil seria tão bicampeão como a Itália, pois vencera em 1958.

Uma Copa, a de 1962, que teve uma maldição sobre o trio final do melhor ataque da história do futebol, o do Santos.

Coutinho, Pelé e Pepe, que seriam titulares absolutos, viram a final das arquibancadas.

Porque Coutinho e Pepe se machucaram antes de a Copa do Chile ter início e acabaram perdendo suas posições.

E Pelé distendeu a virilha no segundo jogo, distensão que doeu no país inteiro.

No jogo seguinte, com Amarildo no lugar de Pelé, a Espanha fez 1 a 0 e fez 2 a 0, o que, poderia eliminar o time nacional.

Sabe-se lá por que, anulou-se o segundo gol.

Curiosamente, no entanto, o lance mais comentado é o que precede este tento, quando se alega que Nílton Santos fez pênalti e deu dois passos para fora da área, engabelando o árbitro.

Não quero parecer o revisionista da história, mas convido você a ver o lance no YouTube (www.youtube.com/watch?v=ybofMZAgXuU).

Constate você mesmo que o jogador espanhol se lança clamorosamente sobre Nílton Santos, que não comete pênalti algum.

O problema está em que o juiz marcou a falta que, se tivesse acontecido, teria que ser assinalada dentro da área.

Aí, a Enciclopédia deu dois passos.

Mas, enfim, como se diz que o que vale é o que fica registrado...

Bem, o registro mais importante é que, depois, o Brasil fez uma campanha brilhante,com Mané Garrincha fazendo gols de todos os jeitos, como nunca havia feito, de pé esquerdo, de cabeça, cobrando falta, o diabo em forma de gente.

Brasil, bicampeão mundial, o segundo e último time a vencer duas Copas seguidas.

Faz 50 anos, mas, para quem viu, parece que foi ontem, o que é assustador.

Quando veio o tricampeonato, no México, em 1970, tratamos de mudar o dicionário para sempre.

Mas isso é tema para o professor Pasquale.