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Lúcio Ribeiro

Que história é essa?

Nesta edição da Eurocopa, a história tem iluminado o futebol. Ou seria o contrário?

Estava até ontem vendo a Eurocopa na Europa. Não na Polônia ou na Ucrânia, as sedes "reais". Mas, dado o envolvimento das nações daqui nesta "Copa do Mundo sem Brasil e Argentina", me senti participando mesmo estando em Barcelona.

No domingo, vi Portugal x Holanda num bar que tinha portugueses de um lado e holandeses de outro, cada qual vibrando e xingando em sua língua.

Mas minha diversão mesmo era ir à banca de jornal comprar diários locais (espanhóis), ingleses, italianos e franceses para acompanhar a cobertura da Euro. E ver como eles falam quase menos das partidas em si e mais dos "heróis" e as histórias de vida que eles carregam para o gramado.

Ontem, na partida entre República da Irlanda 0 x 2 Itália, você via o jovem meia James McClean no banco sem descolar da mente a história de que ele é considerado um traidor onde nasceu, na Irlanda do Norte. McClean fez carreira na seleção sub-21 de lá, mas se recusou a atender a convocação para atuar pela principal. Por questões de religião, queria jogar pelo selecionado do país vizinho inimigo, a República da Irlanda. Não se sentia bem sendo católico e jogando num time de protestantes, segundo ele. Tem recebido ameaças de morte por Twitter e telefone. Disse que, por sua causa religiosa, não tem medo de nada.

No banco oposto a McClean estava o treinador italiano Cesare Prandelli, que dedica cada mínima conquista a sua mulher, Manuela, o amor de sua vida, que morreu de câncer em 2007. Prandelli, que ainda usa a aliança, estava crescendo na carreira enquanto o câncer enfraquecia a companheira. A ponto de ele largar sua primeira grande chance na vida, a direção da Roma, com um mês de cargo, para viver ao lado da mulher durante a parte final do tratamento.

No mesmo horário, em outro estádio polonês, a poderosa Espanha vencia a Croácia de Darijo Srna, conhecido como um chorão a cada simples derrota croata, mas um guerreiro destemido em campo. Ele, não cansa de falar, joga pelo pai.

O pai, nascido na Bósnia, teve sua casa invadida pelo exército sérvio e viu a mãe e a irmã serem queimadas vivas. Sobreviveu e foi parar na Croácia, onde mais tarde Srna viria a nascer e virar jogador, enquanto o pai vendia vegetais no mercado para sustentar seu amor pela bola.

Enquanto isso, com a Alemanha classificada, todos torcem para o técnico Joachim Löw botar o jovem Mario Gotze para jogar. Além de ser considerado o "Messi alemão", o talentoso rapaz é o primeiro jogador a ser convocado para a seleção que nasceu depois da reunificação da Alemanha.

Na Euro, o jogo é jogado e a história é contada.

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