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Xico Sá

Se oriente, rapaz

Vai, Corinthians. Não. Agora é 'Foi, Corinthians'. Deixou a ilha do Nunca e chegou à final inédita

Amigo torcedor, amigo secador, o corintiano se despediu, lindamente, da Terra do Nunca. Está, todo prosa, na final da Libertadores, fato inédito na sua história. O operário, aqui da construção da Rebouças, pegou a sua marmita, abriu um sorriso daqueles e comeu feijão com arroz como se fosse um todo-poderoso rei da Dinamarca.

Não sou corintiano, repito, mas verdade seja dita, é um daqueles times que faz valer, meu eterno camarada Sócrates, a definição grega para a ordem democrática. Com o Corinthians, todo poder emana do povo. Não sou corintiano, mas meu tio Alberto Novais, um dos desbravadores do Parque São Rafael, na zona leste de São Paulo, parece me dizer agora, lá de cima: "Ô, meu filho, como pude morrer sem ter visto essa proeza?".

E passou às finais em cima do rival histórico, o sempre respeitável Santos, que vai ser lembrado nos dicionários do futuro como a mais completa definição da prática do futebol-clube. Em 2046, por aí, as crianças não irão mais dizer "Vamos jogar bola". Dirão os infantes: "Vamos jogar Santos" ou "Vamos jogar Peixe". O grande escritor Ray Bradbury, mestre da ficção futurista, foi quem me disse isso.

Vai, Corinthians. Não. Agora é "Foi, Corinthians". Deixou a ilha do Nunca e chegou à final inédita. Tende ao triunfo, óbvio, quem passa pelo alvinegro praiano, que já nasceu campeão das Américas, não teme. O mais difícil foi feito. Resta apenas meio trabalho de Hércules e Cássio, esse Obelix do Parque São Jorge.

Resta a titebilidade mínima, a invenção na hora de falar, marca do técnico gaúcho, e a vida simples na hora de fazer.

Resta a vida rasteira, ao rés do chão, a vida do prato feito, o PF da bola, na hora da peleia.

Nunca está morto quem peleia, é peleando que se ganha. É, seu Tite, pega a chinoca, monta o cavalo e desbrava esta coxilha, como aqui te aconselha o velho Wander Wildner, cantante da tua brava terra.

É, corintiano, se oriente, rapaz, com a possibilidade de ir para o Japão. Agora a bola já está com o tricolor baiano Gilberto Gil. Considere, rapaz.

E me permita, irmão alvinegro, terminar com uma bronca, sem fundo musical, silêncio, e bem longe do sonho japonês: ô, dona CBF, crie vergonha na cara e se mobilize para dar início às Séries C e D do Brasileiro. Tem muito pai de família dependendo desta história. Sem se falar no Santa Cruz, que está para o Recife como o Corinthians para São Paulo.

@xicosa

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