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Arqueologia Olímpica

Especial mostra, aos domingos, o encontro de atletas com equipamentos usados no passado. Essa é a 2ª de 4 edições

No braço

Brasileiras que vão a Londres usam remos e barco de madeira feitos artesanalmente nos anos 70

MARCEL MERGUIZO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Cartão-postal do Rio, a lagoa Rodrigo de Freitas ganha movimento diariamente. Para lá e para cá, remadores dão ritmo às águas sob os pés do Cristo Redentor há décadas.

Nesse balanço, duas garotas cortavam a água em uma tarde de outono deste ano quando alguém gritou em outro barco: "Estou me sentindo na década de 70".

Luana Bartholo, 27, e Fabiana Beltrame, 30, não eram nascidas nos anos 70, quando o barco e os remos que experimentavam a pedido da Folha foram feitos, de uma maneira que não se faz mais.

"É uma arte fazer um barco de madeira como este, é algo artesanal. Os de hoje, de fibra, são feitos a toque de caixa", lembra Fabiana, primeira brasileira campeã mundial no remo, em 2011.

Ela tem razão. Segundo Celso de Oliveira Batista, 59, técnico de remo da Escola Naval há 33 anos, o barco de cedro da dupla é um dos últimos feitos à mão no Brasil. Ele foi construído pelo carpinteiro português Manoel Baltazar Agonia do Couto, então funcionário do Botafogo.

Barcos como esse foram substituídos por outros mais leves, de alumínio, fibra de vidro e carbono.

Parceira de Fabiana desde fevereiro -as duas estão classificadas para a Olimpíada de Londres-, Luana não sentava em um barco de madeira havia mais de dez anos.

"Só remei barcos de madeiras quando comecei. E os remos de madeira, eu nunca tinha usado. Estranhei bastante. São tão pesados que a gente mal conseguia tirar da água", afirma a carioca.

"Fico imaginando como os atletas conseguiam fazer tempos tão bons com esses remos", emenda Fabiana.

"Nós iríamos completar em 20min uma raia de 7min30", afirma Luana.

O remo estreou nos Jogos em Paris-1900. As mulheres, porém, só competiram nos de Montréal-1976. Nestes, os britânicos já tinham barcos de fibra, mas não puderam usar.

"Não é como a F-1, que tem a competição de construtores. As regras do remo não deixam os remadores em segundo plano", diz Fabiana.

O barco, skiff duplo, pesa 27 kg no mínimo. O tamanho do remo varia. Elas usam um de 2,87 m, com pá de 43 cm, a menor, para ficar mais leve.

Em Olimpíadas, ainda com barcos de madeira, o Brasil nunca passou de um quarto lugar (Paris-1924 e Los Angeles-1984). "Londres é um passo para a Rio-2016, quando a gente quer uma medalha", conclui Luana, remando entre o passado e o futuro.

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