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Tostão

Repressão e fantasia

A disciplina e os esquemas táticos são a consciência e o superego dos jogadores

As principais esperanças do futebol brasileiro, Neymar, Ganso, Lucas, Oscar e Leandro Damião, não estarão nas finais da Copa do Brasil e da Libertadores. Nas semifinais, predominou o jogo coletivo do Corinthians e do Coritiba.

Neymar, em campo, ainda não atingiu a simplicidade dos maiores craques. Messi é conciso e

objetivo. O mesmo acontece em todas as atividades. Talento é tornar simples o que é complexo. Muitos confundem simplicidade com simplismo e ingenuidade.

Toninho Nascimento, editor de esportes do jornal "O Globo", disse, com razão, no programa Redação Sportv, que Ganso, contra o Corinthians, parecia um veterano atuando em uma pelada de final de semana.

Escrevi que o Corinthians, por causa da rigidez tática e do futebol compacto, é o mais europeu dos times brasileiros. No Brasil, é comum associar disciplina tática com futebol feio e pragmático. Não é bem assim. Todas as grandes equipes, com todos os estilos, como a seleção brasileira de 1970 e o atual Barcelona, são disciplinadas taticamente. Unem disciplina com fantasia e improvisação.

A disciplina e os esquemas táticos são a forma, o suporte, para os craques brilharem. São também uma mensagem aos jogadores, que eles não podem ultrapassar certos limites, fazer tudo o que desejam, e que suas ambições não podem atropelar o conjunto.

Assim é também na vida. O esquema tático é o superego, a consciência dos atletas. Mas, se os treinadores e os Zé Regrinhas forem excessivamente rígidos, vão inibir a inventividade e a espontaneidade dos jogadores e dos cidadãos.

Uma das razões da queda de qualidade do futebol brasileiro é que muitos técnicos, desde os das categorias de base, entendem muito de disciplina, estratégia, esquema tático, e pouco de futebol.

As grandes equipes não ganham sempre, nem os vencedores são sempre grandes equipes. O Chelsea, campeão da Europa, e o Corinthians, se ganhar a Libertadores, não são grandes times.

São organizados e eficientes. Falta mais talento.

Em muitos momentos dos dois jogos contra o Santos, o Corinthians, que costuma marcar por pressão, atuou como o Chelsea nos confrontos contra Barcelona e Bayern, com oito jogadores à frente da área.

Jogar dessa forma não é pecado nem proibido. Temos de respeitar, compreender as razões e as necessidades da equipe e reconhecer seus méritos. Mas a função do comentarista não é apenas exaltar os vencedores. É, principalmente, ser crítico e exigir melhores espetáculos.

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