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Xico Sá

'El día que me quieras'

Não se ganha título importante sem personagem iluminado. O chão da fábrica precisa de uma estrela

Amigo torcedor, amigo secador, quando o juiz deu por fim a batalha da Bombonera, na Buenos Aires querida, um maluco irrompeu, do fundo do boteco, cantando o mais famoso tango de Carlos Gardel: "El día que me quieras".

Todo o bando de loucos, a essa altura, parecia fazer um coro em San Pablo: "El día que me quieras, Libertadores da América". A partir daí, o foguetório não parou mais. Duvido que algum corintiano de verdade, como me soprou o tio Alberto Novais lá da ZL, consiga pregar os olhos até o fim da caminhada inédita.

A classe operária, finalmente, vai ao paraíso. Só um desastre retumbante, um Pacaembuzaço, tira essa taça da ainda virgem e centenária agremiação do Parque São Jorge. Nem meu triste corvo Edgar parece ter mais "fuerzas para la secación". Minha agourenta ave amanheceu em farrapos, um redemoinho de penas negras.

O mais maluco é perceber, amigo, que mesmo um time tão eficiente quanto uma linha de montagem de uma fábrica alemã da Volkswagen carece, em algum momento, de um herói. Nem o mais azeitado coletivo prescinde do seu protagonista.

Não se ganha título importante sem um personagem iluminado. O chão da fábrica precisa de uma estrela. Foi o caso de Romarinho, Romariño, diminutivo de craque, candidato a ser o cara, "el cabrón". O menino que veio de Palestina, no interior paulista, para fazer parte da história alvinegra.

E não me venha com essa de deuses do futiba. Foi mais a confiança do Tite, el timoneiro, do que as superstições. De deus na Bombonera só havia um, Don Diego Maradona, em carne, osso e barriga. Naquela noite, repito, em que alguns corintianos, na Mercearia São Pedro, o boteco ao qual me refiro, cantaram "El día que me quieras" como hino desta campanha nunca dantes vista.

A minha Monalisa do Ipiranga, que me abandonou antes do embate com o Santos, acordou ontem com um sorriso de rachar as paredes do Louvre. Alguém me disse que ela anda novamente, de novo amor, nova paixão, toda contente, como na canção de Evaldo Gouveia e Jair Amorim.

Na voz de Maysa, óbvio, combina mais com o meu sofrimento.

Quem sabe com o Corinthians campeão, quem sabe, ela retorne ao chatô de sempre. Tenho um bom motivo para conter meu pobre cuervo nessa fatídica hora. O dia que me quiseres, como diz a letra do tango, as estrelas ciumentas nos olharão passar, lindos enamorados, até que a próxima Libertadores nos separe de novo.

@xicosa

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