Índice geral Esporte
Esporte
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

José Roberto Torero

Síndrome de Everest

O corintiano agora é como um viajante que já conhece o mundo inteiro e só pode ir aonde já esteve

Quando entrei no Bar da Preta tinha certeza de que veria Marciano, o corintiano, em total euforia. Achei que ele estaria brindando com copos de Tubaína, cantando "Salve o Corinthians..." usando uma garrafa como microfone ou, quem sabe?, dançando sobre o balcão. Mas qual o quê! Marciano estava numa mesa do canto, sem falar com ninguém, em frente a uma xícara de café frio.

Sentei ao seu lado e perguntei por que ele estava tão cabisbaixo.

Ele suspirou longamente e disse: "É a síndrome de Everest".

Minhas sobrancelhas juntaram-se, como que perguntando: "Que síndrome é essa?".

Ele entendeu minha linguagem pestanal e respondeu: "É uma crise psicológica que acontece em alguns alpinistas que chegam ao cume daquela montanha. Após alcançarem o teto do mundo, eles perdem o interesse por outras escaladas. Dizem até que passam a usar apenas escadas rolantes".

"Não estou entendendo. Você subiu o Everest?"

"Metaforicamente, subi. Veja bem, meu amigo, temos mais títulos paulistas que qualquer outro, vários Campeonatos Brasileiros, a Copa do Brasil, o Mundial, o estádio está sendo construído e agora... ganhamos a Libertadores. Não nos falta mais nada."

"E isso não é bom?"

"É..., é claro que é bom. Mas sinto certa saudade dos tempos em que lutávamos contra o jejum de títulos. Saudade de quando só tínhamos a nós mesmos. Aqueles, sim, eram dias heroicos. Hoje qualquer um pode ser corintiano. Antes era coisa para homens de fibra."

"Não exagere..."

"Não é exagero. Antigamente ganhar uma taça era como conquistar uma mulher difícil, decidida a morrer virgem. Agora os campeonatos são tão fáceis como xavecar uma periguete bêbada."

"Você acha que estaria melhor sem os títulos?"

"Claro que não. Pensa que sou maluco? Essa história de 'bando de loucos' é só um slogan. Você acha que eu ia preferir um fusca a um Mercedes?"

"Não, não acho."

"Pois é...", ele suspirou de novo. "Mas que dá uma certa saudade de passar cera no primeiro fusquinha, isso dá."

CONVITE

Vou lançar um livro para crianças, hoje, na Livraria da Vila (Fradique Coutinho, 915), a partir das 15h. Mas aviso que não tem nada a ver com futebol. Seu nome é "Os Oito Pares de Sapatos de Cinderela". Ele tem tênis, chinelos, botas, tamancos, sapatinhos de vidro e até patins, mas nenhuma chuteira.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.