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Arqueologia olímpica

Especial mostra, aos domingos, o encontro de atletas com equipamentos usados no passado. Essa é a última de 4 edições

Salto alto

Ouro em 2008, Maurren Maggi veste sapatilhas de Nelson Prudêncio, medalhista em 68 e 72

MARCEL MERGUIZO
DE SÃO PAULO

Uma sacola de plástico na qual está escrito à caneta a palavra "museu" guarda o que deu impulso a uma história de ouro, prata e bronze de dois filhos de São Carlos.

Não há medalhas ali. Nela, o duas vezes medalhista olímpico Nelson Prudêncio, 68, traz dois pares de sapatilhas que utilizou nos Jogos da Cidade do México, em 1968, e no Pan de Winnipeg, em 1967. Competições de prata para o saltador, que também foi bronze em Munique-1972.

Na pista de atletismo da Universidade Federal de São Carlos, onde leciona, o professor doutor encontra a pupila de ouro Maurren Maggi, 36, que na infância ia àquele local saltar atrás de mangas. Lá, ela veste as sapatilhas de pregos e sola rígida que ele se recusa a doar a museus.

"É uma relíquia dele. Tenho que ter respeito", diz Maurren ao calçá-las. Mas se recusa a pisar na pista.

"Fico arrepiada. Agora já posso dizer que vesti as sapatilhas do Prudêncio", emenda campeã do salto em distância em Pequim-2008.

"Eu é que posso dizer que quem vestiu minha sapatilha foi uma campeã olímpica", responde o ex-recordista mundial do salto triplo.

As sapatilhas que Maurren veste hoje são mais leves, flexíveis e já não têm pregos fixos como as de Prudêncio. Ela corre em pistas de material sintético, ele se acostumou às de carvão. Curiosamente, ambos não gostam dos calçados específicos para suas provas. Ele utilizou sapatilhas de velocistas, mais flexíveis, para o salto triplo. Ela veste as de triplo para saltar em distância.

"A do triplo é um pouquinho mais alta no calcanhar, acaba protegendo tendão, joelho, e fica mais confortável no pé. Milimetricamente faz diferença. E, esteticamente, eu fico mais bonita", afirma.

"Estes pregões pesam mais que a sapatilha", brinca o mestre. Hoje, os calçados têm cerca de 100 gramas.

"O importante é o pé se moldar o melhor possível, e esse conforto faz você não se preocupar com outra coisa que não o que tem que fazer na pista: saltar".

Maurren não tem mais a primeira sapatilha que ganhou como prêmio por competir em uma edição dos Jogos Regionais. Deu o par a um jovem atleta. Já Prudêncio agradece à mulher Lúcia por cuidar das suas relíquias.

"A primeira sapatilha é como a primeira namorada. Essa aqui ainda está com terra, conta uma história. E história não dá para inventar".

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