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Tostão

Histórias paralelas

Saber ver, enxergar o que não está claro, é uma das qualidades mais difíceis no futebol

Os maiores atletas do mundo, de cada esporte, com exceção do futebol, estarão em Londres. Os melhores são, especialmente nos esportes individuais, os mais pressionados, solitários e ambiciosos. A brasileira Fabiana Murer, a grande saltadora com vara, disse à Folha que usa o tédio, e acrescento, a tensão, antes das disputas, para saltar mais alto.

A Olimpíada, ao mesmo tempo em que desperta belos sentimentos, estimula os cidadãos, atletas ou não, crianças, adolescentes e adultos, a pensarem que só serão felizes se forem vencedores, mesmo em pequenas coisas do cotidiano. O mundo é cada dia mais competitivo. Perder é morrer.

Há anos, critico os simuladores, cai-cai, que tentam enganar o público, o adversário, o árbitro e o futebol. Neymar é mais um deles. Na vitória contra a Grã-Bretanha por 2 a 0, Neymar, em um mesmo lance, tentou enganar duas vezes.

A primeira, ao simular o pênalti, e a segunda, ao ficar no chão, imóvel, por um bom tempo, após perceber que o árbitro não foi na sua trapaça. Os simuladores, cai-cai, sempre existiram no futebol. Apenas são hoje mais numerosos.

Oscar, com seu futebol simples e eficiente, tem grande chance de ser destaque no Chelsea. Porém tenho dúvidas sobre se ele será um dos grandes jogadores do futebol mundial.

Os ingleses, pelo valor pago, e muitos brasileiros, pelo oba-oba, já o tratam como um craque, definitivo, antes de ser.

Na Olimpíada de 1996, nos EUA, na véspera da estreia com o Japão, conversei, por um longo tempo, com Ernesto Santos, conhecido observador da seleção brasileira. Minha intenção não era apenas obter informações para meus comentários. Queria trocar ideias sobre futebol e aprender com ele.

Admirava seu trabalho, desde as Copas do Mundo de 1958 e 1962.

Penso que técnicos e imprensa costumam dar muitas opiniões, informações, se fechar em grupos, mas conversam pouco sobre futebol. Muitos não escutam nem querem aprender. Acham que sabem tudo.

Ernesto Santos, depois de dar todas as informações para a comissão técnica, me mostrou os detalhes técnicos, táticos e estatísticos do time japonês. Milhares de setas cruzavam o papel, para mostrar a movimentação dos jogadores. Apesar das informações corretas, o Brasil jogou mal, Dida e Aldair se trombaram, e o Japão ganhou por 1 a 0.

Há, em uma partida, duas histórias paralelas. Uma, racional, ordenada, baseada em detalhadas informações e conhecimentos técnicos, e outra, imprevisível, ocasional. Um grande time é o capaz de impor sua história.

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