Preparação para Rio sofre com atraso em relação a Londres

O governo federal está atrasado na preparação da Olimpíada de 2016 em comparação com os Jogos de 2012.

É o que mostram os números financeiros do governo e o cronograma de obras. É também a opinião dentro do comitê organizador da Rio-16, segundo apurou a Folha.

Mas esse atraso não tem sido exposto em público.

Por enquanto, o COI (Comitê Olímpico Internacional) mostrou confiança na execução do projeto e só pediu maior coordenação nas autoridades públicas nos Jogos.

No projeto olímpico carioca, a Prefeitura do Rio e a APO (Autoridade Pública Olímpica) são responsáveis por viabilizar as construções de sedes esportivas e de infraestrutura -os projetos são pagos por outros órgãos federais. É um modelo inspirado no de Londres-2012.

Só que, na Inglaterra, a ODA (Olympic Delivery Autorithy) foi criada em 2006, seis anos antes do evento. No Brasil, a APO só foi aprovada em março do ano passado. Isso aconteceu tarde para membros do comitê do Rio-2016.

E a entidade pouco investiu um ano depois. Em 2011, os gastos da APO se resumiram a R$ 400 mil, praticamente tudo com pessoal.

No atual exercício, esse número subiu para R$ 3,5 milhões no primeiro semestre. Mas o orçamento previsto para o ano todo do órgão federal é de R$ 155 milhões, o que dificilmente será atingido.

Já o investimento do Ministério do Esporte nos dois programas olímpicos em 2011 somou cerca de R$ 74 milhões, segundo levantamento feito pela reportagem. Quase nada foi gasto na organização da Olimpíada do Rio.

O maior volume de verba foi de repasses a confederações e ao COB para a preparação de atletas. E houve contratações de consultorias.

Diante desses fatos, membros do comitê Rio-16 dizem, nos bastidores, não entender o que a equipe da APO -haverá 25 pessoas- fará em Londres durante os Jogos. Afinal, é no período prévio à Olimpíada que o trabalho da ODA ocorreu. Realizar os Jogos é responsabilidade dos comitês organizadores.

PARQUE OLÍMPICO

Enquanto isso, o Parque Olímpico do Rio está atrasado em pelo menos um ano em relação ao que foi visto nas obras similares de Londres. O governo inglês começou a preparar a área de maior concentração de instalações em 2007, cinco anos antes dos Jogos. No meio de 2008, antes da Olimpíada de Pequim, iniciou as obras de fato.

No Brasil, a pedra fundamental do Parque Olímpico foi lançada no mês passado. A partir daí, começou-se a retirar arquibancadas e a preparar o terreno para as obras.

O COI informou ontem, de novo, que o cronograma do Rio para obras é apertado. Mas se disse confiante.

"Tivemos uma discussão com o governo brasileiro para ver o cronograma do projeto. Temos confiança de que eles vão entregar dentro do prazo", afirmou o presidente do COI, Jacques Rogge.

O comitê só interferirá se entender que há um problema extremo que ameace a boa realização da Olimpíada de 2016. (RODRIGO MATTOS)