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Edgard Alves

Superação sem limites

Triunfo de sul-coreano mostra que a capacidade humana pode ir além de deficiências físicas

O limite está próximo? Foi o título da coluna da anteontem, que mostrava não haver consenso em estudos científicos sobre a estabilização dos recordes nos esportes, discussão avivada a cada Olimpíada.

E a primeira resposta chega acachapante: antes mesmo do desfile de abertura dos Jogos de Londres, ontem, o sul-coreano Im Dong-hyun cravou novo recorde mundial para o tiro com arco.

Na falta de consenso entre as teses sobre recordes, a coluna concluiu que o debate continuaria em alta, tornando as disputas mais interessantes.

E veja só: Dong-hyun, o recordista, possui, na prática, 20% de visão em seu olho direito e apenas 10% no esquerdo.

E conseguiu o recorde atirando flechas da distância de 70 m para acertar um alvo de 122 cm. Não bastasse a marca individual de Dong-hyun, a Coreia do Sul também registrou o recorde por equipes.

Dong-hyun já é um atleta olímpico consagrado, que tem em seu currículo os títulos de campeão por equipes em Atenas e Pequim.

Sobre as dificuldades com a visão, o atleta explicou que é como observar um quadro impressionista atingido pela água, e que sua mobilidade não exige qualquer peça de apoio.

Mesmo com informações superficiais sobre a capacidade de visão do recordista, procurei especialistas para tentar entender melhor como um problema desse tipo tem compensações. O oftalmologista Rubens Belford Jr., professor da Unifesp, disse que, mesmo com as limitações apontadas, é possível que o atleta enxergue o suficiente para aquele objetivo.

Outro especialista da área, Newton Cara Jr., da USP e da Unicamp, ficou empolgado com o recorde. Para ele, a notícia vai fazer um bem às pessoas com problemas semelhantes, atuando como reforço ao estímulo da visão residual. "Nosso cérebro é mais capaz do que a gente usa", disse. No caso do recordista, é possível que interprete o que está vendo. Disse ainda que só se vê o que se conhece. Diante de um raio-x, um radiologista vê detalhes, enquanto outros, sem conhecimentos específicos, só enxergam borrões.

Enfim, uma pessoa com deficiência precisa compensar suas perdas usando ao máximo os outros sentidos, que são afiados, como tato, manejo do equipamento e força do vento, entre outros.

Some-se a isso o autodesafio do cidadão. As pessoas com deficiência têm amplo conhecimento de que todos as observam com alguma piedade, e, é nesse momento, ensinou-me Jairo Marques, colunista da Folha e cadeirante, que surge um troço até meio sobrenatural de que pode e tem de mostrar que capacidades não estão necessariamente ligadas a um aspecto físico.

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