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Corpos

Para evitar que irmãos lutem entre si, pai manda um dos filhos engordar e realiza sonho de ver ambos nos Jogos Olímpicos

EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Um pai, que tinha o sonho de ver seus filhos nos Jogos Olímpicos, ficou inconformado quando trocaram socos "para valer" porque dividiam a mesma categoria de peso.

Quando ambos chegaram à seleção brasileira de boxe e, com problemas de peso, o mais novo foi forçado a invadir a categoria do mais velho, este ouviu a ordem do pai: "Suba de peso. Sei que está bem onde está, mas você é mais alto, se adapta melhor".

Foi assim, com os pesos definidos pelo pai, o veterano dos ringues Touro Moreno, que Esquiva Falcão, na categoria dos médios (até 75 quilos) e Yamaguchi Falcão, seu irmão meio-pesado (até 81 quilos), chegaram a Londres.

Dois anos mais novo, Esquiva, 22, garantiu vaga pelo Mundial, em que foi bronze. Já Yamaguchi conseguiu o feito nas classificatórias do Rio.

"Sempre tive esse sonho, de ter dois filhos em uma Olimpíada. E deu certo quando o Yamaguchi se classificou. Comemorei muito", rememora Touro Moreno, cujo nome verdadeiro é Adegard Câmara Florentino, 76.

A mudança de categoria gerou sacrifícios para Yamaguchi. "Para ele [Esquiva], foi bom", explica o mais velho, ao subitamente parar de falar e dar de ombros.

"Para mim, nem tanto. Os adversários de minha nova categoria são fortes. Mas faço pelo meu irmão, meu pai pediu", conta Yamaguchi, batizado com nome oriental em homenagem a um amigo, descendente de japoneses.

"Nem cheguei ainda a bater no limite da categoria, estou com 78, 79 quilos. Pelo menos não preciso me esforçar para 'dar o peso', passar por regime pesado, como todo o mundo faz", conta.

O único duelo entre a dupla ocorreu em um Paulista.

"Ele tinha aquela coisa de irmão mais novo, veio para cima, agressivo mesmo", lembra Yamaguchi, que deixou escapar um sorriso maroto ao relatar o resultado. "Eu venci por pontos", diz.

Esquiva guarda uma lembrança diferente do duelo. "Foi quase uma sessão de 'sparring' [treino com luvas]. Não fomos para nocautear um ao outro", discorda ele.

"Sempre motiva ter gente torcendo por nós, mas, quando se trata de sangue do seu sangue, é diferente", diz Esquiva, em alusão ao apoio do irmão em sua estreia em Jogos, na quinta -os primeiros combates de seu peso começam hoje. Assim, o único brasileiro que sobe ao ringue hoje é Robenilson Vieira (até 56 quilos), contra o uzbeque Orzubek Shayimov.

Além de Esquiva e Yamaguchi, mais dois filhos de Touro Moreno lutam: Estiva, ainda na base, e Tomas Edson. É em relação à carreira do último que o "estrategista" Touro Moreno reaparece.

"Para o Tomas, estou esperando um empresário para profissionalizá-lo. Já tenho muitos amadores na família."

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