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Juca Kfouri

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Olímpica internet

As agruras de um veterano jornalista num sábado sem conexão com o mundo exterior

RUY CASTRO vive, bem, e sobrevive, melhor ainda, sem telefone celular. Se não bastasse, ainda observa divertido e crítico a fissura dos portadores do aparelhinho, a imensa maioria da população mundial, ao, por exemplo, desembarcar de um simples voo entre o Rio e São Paulo.

Teria o mundo acabado naqueles 50, 60 minutos entre a derradeira ligação e aquela que se faz ainda de dentro do avião?

Pois se o Ruy está coberto de razão, assim como Marion Strecker ao se referir aos dependentes em tecnologia, peço a compaixão de ambos, e da rara leitora e do raro leitor, para o que passo a relatar, ainda angustiado, 48 horas depois.

O sábado em Londres estava ensolarado e generoso com o esporte brasileiro, um ouro e um bronze no judô logo no primeiro dia de competição, coisa inédita em nossa história olímpica. Eis que chega por e-mail a receita, que suspeito inútil, de um antibiótico, mas não custa tentar na farmácia da esquina.

A negativa da farmacêutica é simpática, solidária e firme, inabalável, acompanhada do endereço do posto de saúde mais perto, no Soho londrino, o SUS dos ingleses, o NHS, National Health Service.

Entendi, então, perfeitamente, a razão da menção às enfermeiras e doutores na festa de abertura dos Jogos: melhor impossível. Mas como tinha saído do hotel para ir até a esquina, deixei o celular, o tablet e o computador no quarto -porque não sou dependente, dona Marion, nem acho que preciso estar o tempo todo conectado, senhor Ruy.

Eis que no posto de saúde, na TV da sala da espera, vejo Thiago Pereira subir ao pódio para receber medalha de prata! Phelps, where, hein?, perguntaria Antonio Prata (não é parente da medalha, como diria Sandro Macedo).

Pois é. Não tinha Phelps, tinha a primeira medalha da natação brasileira em Londres, a terceira do sábado de ouro, prata (não é parente do Antonio) e bronze.

Este experiente contador de histórias também não tinha. Não tinha como contar, ou melhor, blogar, que dá quase no mesmo não fosse a aflição da necessidade imediata porque, mais tarde, ora, só não contaram pra você, pedro bó!

A atendente não entendeu o nervosismo, a enfermeira se desculpou pela demora que nem havia, e a médica, que acabou por fazer a prescrição, queria saber se a medalha era motivo de alegria ou tristeza, desconfiada de que eu pudesse estar frustrado pelo segundo lugar.

Depois, para justificar a nota com tanto atraso no blog, expliquei que não tocara no assunto para não parecer que estava enfiando o Corinthians até na Olimpíada...

Ah, sim, porque a internet também produz chatos, não só fissurados. Mas, como se pode perceber, também jornal não dá pra não ler.

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