Índice geral Esporte
Esporte
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Edgard Alves

Convite à marmelada

Regulamento com fase de grupos é tão imprevisível e arriscado como revólver na mão de macaco

A tentativa de "marmelada" de oito atletas do badminton provocou o primeiro escândalo da Olimpíada, em Londres. Todas foram colocadas para fora dos Jogos. A intenção das quatro duplas -uma da China, outra da Indonésia e duas da Coreia do Sul-, segundo as acusações, seria perder uma partida para facilitar o caminho no torneio, ou seja, pegar adversárias mais fracas no cruzamento eliminatório das quartas de final.

Acontece que o público percebeu a farsa e vaiou. O Comitê Organizador dos Jogos e o COI consideraram os fatos inaceitáveis. Não poderia ser diferente, uma disputa olímpica virar blefe, enganação. As atletas levaram a pior, mas o público também acabou punido, pagou para ver um jogo que virou fraude e não terá ressarcido o valor dos ingressos.

Esporte de raquete mais rápido do mundo, o badminton é uma espécie de tênis de campo, em que, em vez de bolinha, rebate-se uma pequena peteca. Foi introduzido na Olimpíada em Barcelona-1992. Especialistas já haviam aventado a hipótese de ocorrer corpo mole, porque a modalidade, que costuma adotar disputas inteiramente pelo sistema de mata-mata, desta vez optou por uma fase de grupos antes dos confrontos eliminatórios. Entre as excluídas estão as chinesas Yu Yang e Wang Xiaoli, campeãs do mundo de 2011 e líderes do ranking mundial, que perderam de maneira surpreendente por 2 a 0 para as sul-coreanas Jung Ky-ung e Kim Ha-na.

O fantasma da "marmelada", no entanto, não é novidade. De tempos em tempos coloca alguma equipe sob suspeita, pois o regulamento com fase de grupos seguida de mata-mata, adotado por várias modalidades, é como revólver na mão de macaco. Não dá para saber o que vai acontecer e corre-se o risco de tiro para todos os lados.

Caso semelhante ocorreu com a seleção brasileira masculina de vôlei na campanha do tri mundial, na Itália, em 2010. O Brasil, favorito e já classificado, perdeu da Bulgária e driblou confronto com Cuba. Os jornais locais bateram forte, com termos como escândalo e farsa. Mariana Bastos, enviada da Folha ao Mundial, destacou uma manifestação de Andrea Zorzi, ídolo do vôlei italiano, que escreveu ter ficado com o estômago embrulhado.

A torcida, em protesto, deu as costas para a quadra e gritou "buffoni" (palhaçada). O técnico Bernardinho negou a intenção de entrega do jogo, mesmo tendo escalado alguns reservas. Alegou o temor de lesões. E até formulou uma manchete caso tivesse sido diferente: "Bernardinho arrisca tudo por um jogo que não vale nada e dá adeus ao tri".

Situação controversa: jogou ou não com o regulamento debaixo do braço? A essa mesma pergunta, em Londres, o badminton não vacilou na resposta. Sim.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.