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Um jogo de comadres

Entrega de resultados exclui quatro duplas da Olimpíada e mancha reputação do badminton

RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Oito jogadoras de badminton foram eliminadas da disputa de duplas na Olimpíada por arranjarem resultados: atuaram para perder.

O escândalo que abalou Londres é fruto da cultura de armação de partidas na modalidade e da fórmula de disputa adotada pela federação internacional. Isso pôs em questão até a presença do badminton em futuros Jogos.

As duplas Xiaoli Wang/Yu Yang, da China, Polii Greysia /Meliana Jauhari, da Indonésia, e as sul-coreanas Jung Kyung-eun/Kim Ha-na e Ha Jung-eun/Kim Min-jung foram eliminadas da competição ontem pela manhã.

A federação de badminton tomou a decisão após analisar relatos de juízes, vídeos e ouvir depoimentos das jogadoras. Chegou à conclusão que, de fato, houve armação.

Como já estavam qualificadas à próxima fase, as quatro duplas preferiram ser derrotadas para evitar adversários mais fortes nas eliminatórias. Sacaram na rede e cometeram erros infantis nas partidas.

"Peço desculpas por chegar a essa posição. Nossos juízes fizeram de tudo para que elas jogassem ao máximo", falou o secretário-geral da federação, Thomas Lund. "Árbitros lhes deram vários cartões pretos [que eliminam da partida], o que é raro."

Com a eliminação, houve reforma do torneio de duplas. Equipes desclassificadas ganharam vagas nas quartas de final. Não bastou para refazer a imagem do esporte.

A Federação Indiana de Badminton pediu a exclusão da dupla japonesa Mizuki Fujii/Reika Kakiiwa, que também teria jogado para perder. A requisição foi rejeitada, e as asiáticas se classificaram ontem para a semifinal.

Os casos não são isolados. O técnico chinês Li Yungbo já admitiu que mandou sua jogadora Zhou Mi entregar a semifinal de Atenas-2004 para a compatriota Zhan Ning.

Jogos entre chineses no circuito mundial têm várias desistências. O episódio atual gerou discussão ética na China, que costuma valorizar qualquer tática pelo ouro.

A suspeita sobre o esporte é tamanha que a própria federação mundial monitorou os jogos classificatórios para a Olimpíada para tentar evitar armações. Ainda assim, implantou a fase de grupos em Londres, que acaba permitindo as fraudes. Agora, dirigentes do esporte admitem rever o sistema para a próxima edição, a Rio-2016.

O Comitê Olímpico Internacional considerou o episódio "inaceitável", mas descartou tirar o esporte do programa da Olimpíada. "Acho que não chegará a isso", disse o diretor de comunicação da entidade, Mark Adams. Mas o presidente Jacques Rogge afirmou que, se necessário, pode haver mais ações.

"Isso põe uma marca negra sobre o badminton", admitiu a jogadora sul-africana Michelle Edwards, beneficiada pelas eliminações.

"Acho que a federação não pensou nessas coisas quando programou os jogos", afirmou a atleta russa Nina Vislova, sobre a fase de grupos.

Lund, o secretário da federação, disse esperar que o episódio "não afete o futuro olímpico do badminton".

Ontem, as quartas de final das duplas femininas foram disputadas sem armações. Mas não havia um país com duas duplas no torneio.

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