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Xico Sá

Boleiro do mensalão

Quis o destino que o jovem André fosse fazer um teste com uma camiseta da mãe, eleitora petista em Belém

Amigo torcedor, amigo secador, noves fora o julgamento dos homens da capa preta, um boleiro está condenado para o resto dos seus dias por causa do escândalo no governo Lula. É o André Mensalão, camisa 10, moço de fino trato com a bola, craque do Guarany de Sobral (CE) na disputa da Terceirona.

Joga muito. No mais difícil dos certames do país. Série A é mamata. É futebol metrossexual. É futebol não-me-toques, ai, ui, e todo mundo tira a perna. A série C é faroeste, onde os fracos não têm vez, é a febre da selva, a poeira dos sertões, o futebol do macho-jurubeba.

Ele joga com a elegância paraense da terra abençoada que nos deu o doutor Sócrates Brasileiro, o Giovanni e o Paulo Henrique Ganso. Vi o menino em campo algumas vezes. Não merecia tamanho castigo com esta maldita alcunha. Eis um caso para o qual defendo a mudança de nome imediata do atleta.

Azar medonho. Quis o destino que o jovem André, em um certo dia do ano de 2005, fosse fazer um teste no time do Ananindeua (PA) com uma camiseta da mãe, eleitora petista em Belém. Era justamente aquela camiseta branca clássica do partido com uma grande estrela vermelha estampada no peito.

Ao avistá-lo na beirada do campo, o maldoso treinador já mandou a pilhéria:"Você veio de Brasília, meu filho? Com esta camisa, só pode fazer parte do mensalão", contou André ao repórter João Valadares, do "Correio Braziliense", um feliz torcedor do Santa Cruz, outra brava agremiação da Terceirona.

André tinha 15 anos quando pipocou o escândalo. Agora aos 22 merece que se faça justiça. Por mais que a torcida do Cacique do Vale, como é conhecida a equipe de Sobral, já esteja acostumada a berrar seu apelido, a mudança de batismo é mais do que válida. Vou ao Supremo Tribunal Federal se for preciso.

Ora, o menino não pegou "bola" alguma nessa história. Como a maioria dos brasileiros, o rapaz nem sabe direito o que diabo venha a ser as tenebrosas transações de Brasília. Só sabe, como grande parte da massa, que quase ninguém presta nem para troco na nossa política.

Na terra onde os apelidos jogam bola sozinhos, como dizia o vascaíno Drummond, André não pode pagar por essa praga maldita. Repare que belos vulgos: Pelé, Pepe, Garrincha, Tostão, Manga, Dadá Beija-Flor ou Peito de Aço, Fio Maravilha, Beijoca, Geraldinho Saravá etc.

Comecemos desde já uma campanha por nova chance, novo apelido para o André Mensalão, o craque do bugre sobralense. O que você sugere, amigo? Por favor, nada de gracinhas do tipo "André Cachoeira". Um escândalo pelo outro seria farinha do mesmo saco. No próprio registro do cara temos opções: André Luiz Leão Lima. André Leão. Nome forte. De guerra. Voto neste.

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