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Religião

Muçulmanas falham, mas se mostram orgulhosas

É a 1ª vez que todos os países tiveram mulheres

DOS ENVIADOS A LONDRES

Demorou um minuto e 22 segundos a luta da judoca saudita Wojdan Shaherkani, 16, em Londres-2012.

Foram 14s42 para a afegã Tahmina Kohistani, 23, percorrer os 100 m da pista olímpica e ser eliminada.

Mas a brevidade de tempo não impediu as duas atletas de se sentirem desbravadoras da experiência olímpica para muçulmanas em países de costumes mais rígidos.

Não é a primeira vez que uma mulher de religião islâmica participa dos Jogos -já ganharam até ouros. Mas é, sim, a primeira vez que todos os países levaram pelo menos uma delas ao evento.

A barreira final foi quebrada por acordo político entre a Federação Internacional de Judô e sauditas para que ela pudesse usar uma touca que cobrisse os cabelos, em substituição ao tradicional véu.

Wodjan, que em todas as suas aparições públicas esteve com a cabeça coberta, teve comportamento diferente das outras atletas no tatame.

Ficou quieta enquanto sua adversária porto-riquenha Melissa Mojica aquecia. Caminhou tímida para o tatame sob os aplausos da plateia.

No Estádio Olímpico, Tahmina se aquecia, mas seu hijab chamava a atenção assim como as pernas cobertas. Foi precedida por Noor Hussain Al-Malki, do Qatar, que também mandou uma mulher aos Jogos pela primeira vez.

Ela também correu coberta, machucou-se e saiu de cadeiras de rodas. Foi a única atleta superada pela afegã. O tempo de Tahmina foi o pior. E era seu recorde.

"Estou feliz só de estar aqui. Temos tantos problemas em casa com mortes e assassinatos", contou a afegã.

"Os homens diziam coisas ruins para mim. Que uma muçulmana nunca deveria se exibir em um estádio para 80 mil pessoas. Pensei em nunca voltar ao país, mas decidi enfrentar o desafio", contou.

Tahmina tem inglês articulado e apoio da família. Fala sozinha com homens ocidentais. Wodjan sempre tem uma presença masculina ao lado, seu pai ou dirigentes.

É o presidente da confederação local de judô, Hari Nagim, quem traduz o que, teoricamente, é o sentimento dela: "Disse que é um marco".

A participação das duas só foi possível porque o Comitê Olímpico Internacional faz convites a atletas sem índice técnico para disseminação do esporte. Os critérios, nestas situações, são políticos.

"Entendo quem é contra minha participação nos Jogos [no Afeganistão]. Talvez, um dia, eu os convença de que é bom", analisou Tahima. (EDUARDO OHATA E RODRIGO MATTOS)

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