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Edgard Alves

O soldo de cada um

Rica, a CBF pagará R$ 180 mil por atleta pelo ouro olímpico; o judô dobrou o prêmio de Sarah Menezes

Levei um susto quando soube que o ouro inédito na Olimpíada pode valer até R$ 180 mil para cada jogador da seleção brasileira de futebol. Interrompi a leitura para fazer um rápido cálculo sobre a premiação para os 18 atletas -esse é o número de inscritos. O montante atinge R$ 3,24 milhões. Acrescentando a comissão técnica e profissionais de apoio, a soma sobe pelo menos mais R$ 1 milhão, ou seja, vai para R$ 4,24 milhões. Oferta generosa ou abusiva?

Ontem, acompanhando a vitória do Brasil sobre a Coreia do Sul, voltei a refletir sobre esses números. Não consegui acabar com a dúvida. No Brasil, cada confederação estipula o valor do incentivo. E a CBF é rica, tem dinheiro em abundância, bancada por patrocinadores privados. O que falar?

Ainda mais levando em conta que do outro lado do campo estava a Coreia, que oferecia a seus jogadores um incentivo peculiar, mas com um forte apelo: a medalha valeria a dispensa do serviço militar, que lá dura dois anos e costuma colocar o soldado na fronteira com a Coreia do Norte, área de muita tensão.

Dar o título ao país, ou em outras palavras, ser "patriota" de chuteiras, em contraponto a não ser "patriota" em armas. Como avaliar essa oferta? Não que eu tenha esse conceito sobre uma mera disputa esportiva. Mas parece ser o teor da proposta colocada.

O prêmio da CBF é extremamente generoso, levando-se em conta os oferecidos aos integrantes dos times dos demais esportes da delegação brasileira. A medalhista Sarah Menezes, por exemplo, ouro no judô, iria ganhar R$ 50 mil, mas a confederação da modalidade decidiu dobrar a premiação.

O esporte de alto rendimento hoje, em geral, é profissional. Algumas modalidades são profissionais em um país e amadoras em outros. As Olimpíadas modernas, iniciadas em 1896, vetavam o profissionalismo de forma radical. Qualquer prêmio, incentivo ou salário valia exclusão do atleta. Mas isso mudou há cerca de três décadas.

Por isso, já surgem discussões sobre se os atletas devem ou não ser remunerados para atuar na Olimpíada. Os Jogos alavancam a venda de produtos, de camisetas a cartão de crédito, e o COI fatura alto com patrocinadores e venda de direitos de imagem. Especialistas da área teorizam sobre o valor de mercado de uma medalha de ouro, que varia de esporte para esporte e de país para país, mas pode se traduzir em patrocínio de milhões de dólares.

Enfim, com essas ideias na cabeça, continuei confuso sobre o "bicho" da seleção, mas feliz ao final do jogo. Não com os três gols do Brasil, mas com um telefonema do estádio Old Trafford, em Manchester. Era a minha filha: "Pai, demais esse jogo!".

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