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Sem dormir

Após conduzir o Brasil à 2ª final olímpica, Zé Roberto não esconde a tensão de estar perto de feito histórico

MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A LONDRES

Semblante tenso, mãos trêmulas, corpo balançando de um lado para o outro, cercado por jornalistas, José Roberto Guimarães respondia às perguntas. Às vezes olhava para baixo, coçava a cabeça, não escondia a angústia.

Ao ver a cena, a voluntária que trabalha nos Jogos tratou de armar o socorro. "Você está feliz?", perguntou. "Se não estiver, posso te tirar daí."

Zé Roberto sorriu. Sim, estava feliz. Mas não havia espaço ainda para festa.

O técnico da seleção feminina de vôlei acabara de ver suas pupilas baterem o Japão por 3 a 0 (25/18, 25/15 e 25/18).

Mas já pensava no próximo jogo. Aquele que pode fazer com que ele seja um dos únicos brasileiros, técnico ou atleta, a ganhar dois ouros seguidos. Também pode se tornar o primeiro a subir três vezes ao topo do pódio.

Marcas nas quais nem quer pensar. Só trariam mais angústia, sentimento com que se acostumou a conviver nessa campanha em Londres.

A seleção, ouro em 2008, fez uma primeira fase sofrível e quase não foi aos mata-matas. As jogadoras estavam cabisbaixas e jogavam mal.

Ontem, enfim, a equipe coroou a recuperação com a classificação para a final.

"Eu não tenho saído do quarto, não consigo. Saí para conhecer a Vila um dia porque minha família veio. Parei de ver internet depois da derrota para a Coreia [no terceiro jogo]", disse Zé Roberto.

Em 2004, após derrota na semifinal em Atenas para a Rússia, o treinador contava ter dificuldade de sair de casa. A tensão daquele ano parecia rondar de novo o time.

"Se a gente não se classificasse, iam arrebentar com a gente [no Brasil]. Mas na dificuldade o time se juntou."

A mudança ocorreu antes da vitória ante a China, na primeira fase. O time teve uma conversa aberta. Havia excesso de cobrança e falta de confiança. Depois, bateu Sérvia e, nas quartas, Rússia.

Na festa, Zé Roberto deu "peixinhos" na quadra. Exibe agora um cotovelo ralado e sente dores nas costelas.

"[Após a conversa] senti que era um momento em que não devia cobrar, ser agressivo com elas. Elas precisavam de carinho. Nunca vi esse time se sentir tão mal assim."

Zé Roberto diz estar mais confiante no equilíbrio emocional das pupilas. Mas não deve ter dormido na noite passada nem dormirá essa noite preocupado com os EUA, rivais da decisão.

Seus dias trancados no quarto foram usados para analisar vídeos de jogos. Só fez uma pausa para ver competições de hipismo. Cavalos são uma de suas paixões.

Enquanto avalia as rivais, Zé Roberto tenta não pensar nos feitos que pode atingir se conquistar o ouro. "Não vamos falar nisso", pediu.

E usa como lema uma história do ator Juca de Oliveira, que dizia não pensar no dinheiro e na fama quando montava uma peça de teatro.

"Ele dizia que os deuses do teatro podiam conspirar contra. Desde então, nunca pensei [nos feitos] em nenhuma final. Deixa acontecer."

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