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Tostão

O corpo não mente

O Brasil precisa aprender com a China como se transforma, rapidamente, investimento em medalha

Termina hoje a Olimpíada. Mesmo que ganhe mais de 15 medalhas, será pouco para o Brasil, pelos enormes gastos. Em Pequim, foram 15. Os dirigentes dizem que, no Rio, em 2016, o Brasil deve chegar a 30 medalhas. Será? Sugiro a ida de especialistas à China para aprender como se transforma, rapidamente, investimentos em medalhas.

Ainda não aprendi as regras e os detalhes técnicos do badminton, do taekwondo e de outros esportes. Assim como Antônio Prata, que lamentou "ter ficado muito tempo peregrinando de prova em prova, sempre com a angustiante sensação de que o melhor acontecia justo onde não estava", eu não deveria ter trocado tanto de canal. Estou cansado. Ainda bem que terminou.

O comportamento das pessoas, diante da televisão, em uma Olimpíada, é bastante variável. Há os que assistem a tudo, mesmo se não gostarem ou compreenderem. Querem apenas passar o tempo.

Existem também os que gostam e entendem e que tiram férias para ver tudo. Os mais numerosos são os que veem apenas a tabela de medalhas.

Pelos noticiários, Londres ficou mais vazia que o habitual. O número de turistas foi menor do que se previa, e muitos londrinos saíram da cidade. O mesmo ocorreu em Paris, na Copa do Mundo de 1998. Na época, encontrei uma torcedora brasileira, desesperada, decepcionada e surpresa. Para ela, haveria carnaval todos os dias na Avenida Champs-Élysées.

Para o Barão Pierre de Coubertin, um homem romântico e idealista, os Jogos Olímpicos deveriam ter funções educativas, morais e de união dos povos. Ele era bastante otimista. A maioria das pessoas que assiste aos Jogos quer apenas se divertir e/ou torcer.

Os atletas quase só pensam nas medalhas. A confraternização dos atletas de vários países é muito mais uma obrigação simbólica e bem educada.

Se no cotidiano, com tempo para pensar e racionalizar, o cidadão, com frequência, tenta levar vantagem em tudo, imagine um atleta, na emoção de uma disputa e tendo de decidir, em uma fração de segundos, entre a postura ética e o orgulho e o desejo de ficar rico, famoso e de ser um herói. Por isso, alguns atletas ainda se dopam, mesmo com o enorme risco de serem flagrados.

Existe um preconceito com o esporte, de que seria algo menor, não intelectual, instintivo e corporal. Não é por aí. O esporte é uma disputa técnica, científica, criativa e rica de emoções.

Os sentimentos, antes de chegarem à consciência, passam pelo corpo, por meio de gestos e olhares. O corpo fala primeiro. O corpo não racionaliza nem mente.

"O corpo é a sombra da alma" (Clarice Lispector).

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