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Edgard Alves

A bandeira olímpica

A segurança do símbolo é, na prática, o primeiro teste para o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2016

A BANDEIRA olímpica vai ficar exposta até o final deste ano no Palácio da Cidade, sede da Prefeitura do Rio de Janeiro. Desde que o prefeito Eduardo Paes a recebeu das mãos do presidente do COI, Jacques Rogge, na festa de encerramento dos Jogos de Londres, ela já esteve no Rio, foi levada a Brasília para solenidade com a presença da presidente Dilma Rousseff e retornou ao Rio, onde acabou sendo atração em vários eventos.

A guarda desse símbolo do movimento olímpico internacional é trabalho para o Comitê Organizador da Olimpíada do Rio e implica grande responsabilidade.

Além das obras já em andamento, talvez seja o primeiro desafio de fato para o comitê. A bandeira é um símbolo, o que a torna extremamente relevante, carente de um eficaz esquema de segurança. Na prática, ela inaugura o teste para 2016.

Fatos passados servem como alerta de que todo cuidado é pouco com objeto de tal importância.

A taça Jules Rimet é um exemplo. Antes do seu incrível desaparecimento final, derretida por larápios no Brasil, o troféu já tinha sumido outras duas vezes.

A primeira, num gesto nobre de um cartola italiano, que a escondeu durante a Segunda Guerra Mundial para evitar que fosse confiscada e derretida pela Itália fascista em nome do esforço de guerra. A outra ocorreu antes da disputa da Copa-66, na Inglaterra. Colocada em exposição, a taça desapareceu, mesmo sob forte vigilância. O mistério durou sete dias até que ela fosse achada por um cão, de nome Pickles, farejando um arbusto numa praça de Londres. Além da fama, Pickles ganhou ração pelo resto da vida, oferta de uma indústria do setor. O episódio arranhou a imagem da Scotland Yard, a polícia britânica.

Com o tri na Copa-70, o Brasil conquistou a Jules Rimet em definitivo, e a taça, que media 30 cm de altura e possuía 3,8 kg em ouro puro, foi guardada na sede da CBF, no centro do Rio. Em dezembro de 1983, ela foi roubada. Presos, os ladrões confessaram que o troféu tinha sido derretido. Um vexame.

A bandeira olímpica é diferente. Pode não ter o mesmo valor material, mas é um símbolo do COI, patrimônio dos 204 países que formam a entidade. Não tem preço.

Soube que autoridades mostraram a bandeira original, guardada em uma caixa, para centenas de crianças durante um evento no Rio e que elas colocaram os dedos na peça, contrariando o protocolo do COI, que proíbe que o artigo feito de seda asiática seja tocado sem o uso de luvas. Isso apenas arranha docemente as normas. Aquelas crianças, sorte delas, nunca esquecerão a felicidade do gesto. Contarão a aventura aos netos. O risco está nos bastidores, quando a bandeira estiver longe dos olhos da criançada e dos agentes de segurança. Espírito de porco tem em qualquer parte do mundo, aqui também.

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