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Só 12

Pentatlo do país, que rendeu medalha em Londres, tem uma dúzia de atletas adultos e 2 campeonatos

Adriano Vizoni/Folhapress
Enrico Ortolani pratica esgrima, natação, hipismo, tiro e corrida
Enrico Ortolani pratica esgrima, natação, hipismo, tiro e corrida

RAFAEL REIS
DE SÃO PAULO

Enrico Ortolani, 29, percorre de 50 km a 80 km diários por São Paulo para conseguir treinar, em quatro lugares diferentes, natação, corrida, tiro, esgrima e hipismo.

A cada quatro dias interrompe a rotina para dar expediente no Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Formado em veterinária, fiscaliza produtos de origem animal. Trabalha por 24 horas consecutivas e folga 72.

O paulistano é um dos 12 atletas adultos do país no esporte que deu ao Brasil sua última medalha em Londres.

O ranking nacional de pentatlo conta com apenas oito homens na categoria sênior (a partir de 22 anos). No feminino, a situação é mais crítica ainda: além de Yane Marques, bronze olímpico, existem só mais três atletas.

A lista ainda é inflada por quem se aposentou há menos de um ano, caso de Daniel Santos, 33, que agora é só professor de esgrima da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, no Rio.

No total, sete Estados possuem federações, mas todos os adultos treinam em Pernambuco, São Paulo ou Rio.

São os lugares onde ficam os centros de treinamento, na verdade áreas cedidas por colégios e pelo Exército, onde os atletas podem praticar pelo menos quatro esportes.

Quem não está perto desses CTs precisa improvisar.

"Como em Sorocaba (SP) não encontrei nenhum esgrimista, treino com bolinhas de tênis e círculos coloridos na parede", conta Marcela Alasmar, 28, bancada pelo pai e estudante de equinocultura.

Os sem "paitrocínio" ou fonte de receita extra sofrem para continuar no pentatlo, mesmo que recebam a bolsa-atleta (R$ 925 ou R$ 1.850 por mês para a maioria deles).

É o caso de Aloísio Sandes, 26, namorado de Yane, que treina sozinho e em horários incomuns devido às aulas que dá como personal trainer.

"Para crianças e jovens, não falta apoio. Eles podem conseguir bolsas e vão ganhar até mais do que se estagiassem. Mas, depois que você se forma e precisa se bancar, fica difícil. Por isso temos tão poucos atletas no sênior."

Mas foi justamente esse terreno vazio que atraiu a ex-nadadora pernambucana Larissa Lellys, 29, agora fisioterapeuta, a ingressar na modalidade nove anos atrás.

"Não tinha mais expectativa de ser atleta de alto nível. Mas era minha chance de chegar a uma seleção, até porque havia poucos atletas, então agarrei a chance."

O presidente da CBPM (Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno), Hélio Meireles, reconhece a falta de atletas adultos mas diz não ter muito o que fazer com o orçamento que tem em mãos.

Reclama que, sem um patrocinador, precisa usar boa parte do R$ 1,3 milhão anual de repasse do COB com a organização de campeonatos.

O calendário nacional conta com apenas duas competições de pentatlo por ano.

Em 2012, o país recebeu uma etapa da Copa do Mundo. Quem não é enviado para torneios internacionais completa o calendário com campeonatos específicos de cada modalidade ou que mesclam até quatro esportes.

"Minha primeira competição de pentatlo já foi um Mundial júnior", conta Daniel Velasques, 22, que começou a treinar no ano passado, a contragosto do seu pai.

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