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Rodrigo Bueno

Populismo à europeia

Prêmio de melhor da Europa para Iniesta e título do Atlético de Madri são o real fair play financeiro

O INIESTAZO foi mais uma resposta da Uefa à Fifa. Premiar o autor do gol do título mundial espanhol como o melhor do continente na última temporada resgata o espírito da antiga Bola de Ouro, uma das vontades políticas de Michel Platini, presidente da Uefa que fez questão de dar o belo troféu a Iniesta.

Deixar no palco de mãos abanando (cumprimentando) o sul-americano melhor do mundo foi tão emblemático quanto deixar no mesmo pódio (e no telão, com cara de poucos amigos) o português que é o segundo melhor do mundo.

Não interessa tanto saber como foi a escolha dos 53 jornalistas que votaram na eleição da Uefa, algo que também deve ter gerado polêmicas. O fato é que esses representantes da imprensa dos países que integram a Uefa fizeram o que o prêmio de melhor do ano da Fifa não tem coragem de fazer. A vantagem foi curta (19 votos para Iniesta e 17 para Messi e Cristiano Ronaldo), mas a vitória que não virá no final do ano na Fifa veio agora para o humilde espanhol.

Não fosse esse olhar mais crítico e técnico da Europa, mortais como Figo, Owen e Shevchenko jamais teriam tocado a Bola de Ouro, agora dividida com a tão populista Fifa.

Platini, três vezes melhor da Europa, faz sim seu populismo no Velho Continente, democratizando as vagas em seus interclubes, inchando a Euro e defendendo o fair play financeiro, algo que nem os números mostrados parecem controlar.

A Uefa festejou a queda de 36% em um ano no valor das contratações dos times europeus (os € 613 milhões gastos em janeiro de 2011 viraram € 393 milhões em janeiro de 2012), mas o que significa isso num sorteio de Champions League com cartolas de Chelseas, Manchester Citys, PSGs e outras máquinas de torrar dinheiro? Neste verão europeu, em época de crise, 18 atletas foram comprados por mais de € 15 milhões por equipes do continente. A Uefa destaca que, no verão anterior, foram 26 transações desse nível e que, em 2009 (recorde da gastança), 33 jogadores custaram mais de € 15 milhões.

Talvez estejamos naquela época de desarmamento nuclear em que EUA e União Soviética faziam acordo para reduzir o poder de destruir o planeta de 20 para 15 vezes. Afinal, após 237 clubes serem investigados pela Uefa, apenas três foram excluídos de competições por ferir o fair play financeiro.

Mas talvez estejamos mesmo numa época de grandes mudanças, afinal a venda de Lucas por R$ 108 milhões foi considerada fora da curva e surreal por dirigentes europeus.

Platini tem distribuído mais convites para as festas de gala e, embora os bilionários ainda comam quase todo o bolo, os Iniestas da vida têm ganhado mais espaço entre os mais abastados. Que o digam Atlético de Madri e Falcao, surpreendentes supercampeões da Europa.

rodrigo.bueno@grupofolha.com.br

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