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Juca Kfouri

De cabeça para baixo

Semana maluca: não se entende mais mesmo o mundo do futebol. Nem aqui, nem na China

PEGUE OS RESULTADOS desta semana nas eliminatórias para a Copa do Mundo e no amistoso da seleção brasileira contra a chinesa.

Convenhamos que 8 a 0 não é um placar normal em nenhuma circunstância entre duas seleções no futebol de hoje em dia. Mesmo que o ainda nascente futebol chinês estivesse representado por um time com apenas quatro titulares -embora seis dos que atuaram no Recife também tenham jogado em Sevilha, às vésperas da Eurocopa, quando a Espanha os venceu apenas por 1 a 0 e a seis minutos do fim do jogo.

Verdade que os jogadores do Barcelona, com exceção de Xavi e Busquets, só foram entrando no segundo tempo, e com a saída dos dois que começaram como titulares, porque o Barça vinha da decisão da Copa do Rei. Além do mais, era o amistoso derradeiro antes da Euro, e o time jogou com cautela.

Mesmo assim 8 a 0 é demais, além de ser aquilo que todos dizemos que precisa ser feito quando um time é muito melhor que o outro: há que golear. Goleou-se, pois.

É evidente que o time brasileiro nem é tão ruim como as vaias do Morumbi sugeriram nem tão bom como os aplausos do Arruda insinuaram. Mas veja outros placares dos últimos dias, pelas eliminatórias.

Francamente, você diria que o Paraguai perderia da Venezuela, e por 2 a 0, em Assunção? Que o Peru empataria com a Argentina, mesmo em Lima? Que o Uruguai sofreria para empatar em casa com o Equador?

E que tal o empate, em Wembley, entre Inglaterra e Ucrânia? Ou a magra vitória da Itália sobre Malta, 139ª no ranking da Fifa, por 2 a 0, em Modena? Ou a magérrima, da campeoníssima Espanha sobre a Geórgia, a 86ª no ranking da Fifa, por 1 a 0 e no 86º minuto de jogo?

Atenção: a China está no 78º lugar, mais bem colocada, portanto.

Não, rara leitora, raro leitor, não imagine ler aqui um ataque de pachequismo explícito. Ao contrário, é apenas preocupação. Porque o equilíbrio entre as forças mais tradicionais e as menos poderia ser sinal de progresso, de elevação de nível, mas, ao contrário, tem sido de queda.

Doutor Sócrates sugeria que se tirasse um jogador de cada time, dez contra dez, para que se ganhasse espaço, medida mais econômica, e factível, do que aumentar, fisicamente, os gramados. Pouco antes de morrer, radical, ele falava em nove contra nove.

OK, desse modo, Brasil x China teria sido 16 a 0.

E Geórgia x Espanha? Faria tanta diferença? Mesmo que não alterasse tanto o placar, permitiria melhor qualidade de espetáculo?

São perguntas que ficarão sem respostas. Se nem o calendário brasileiro, mantido para agradar as capitânias hereditárias, quer dizer, as federações estaduais, e a Globo Esporte, muda para o óbvio, que dirão de pensamento tão maluco?

Tão maluco como anda o futebol.

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