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Fábio Seixas

40 anos depois

Na mesma Monza onde o Brasil conquistou a F-1, Massa mostrou, de novo, a triste face da realidade

Pode ser apenas uma coincidência. Mas tenho a impressão de que é coisa pior, e com consequências que já pulsam.

Barrichello ficou por seis anos na Ferrari. Porque era competente nas tarefas de colher pontos e combater os adversários. Mas, principalmente, porque o dono da situação, Schumacher, o queria ali.

Era cômodo. Ok, às vezes falava algo mais pesado, extravasava. Mas mesmo isso foi controlado ao longo dos anos. Em nenhum momento foi ameaça a um dos cinco títulos do alemão pela equipe.

Massa está em sua sétima temporada pela Ferrari. A terceira como companheiro de Alonso. Negocia, agora, a renovação do contrato. E, se é verdade que não consegue replicar a eficiência do antecessor na missão de roubar pontos de adversários, carrega ao menos o segundo trunfo. Não ameaça o dono da situação -e chia menos.

Para quem acha que essa é uma impressão enviesada, de quem está no Brasil ou é exigente demais porque saudosista, seguem dois relatos que vêm do além-mar...

Está na "Autosprint", a principal revista italiana de automobilismo: "A missão de Massa em Monza era lutar contra a McLaren lá na frente, sem perder de vista o avanço de Alonso atrás de si. Até o momento de renunciar àquele que talvez fosse seu único pódio do ano e, quiçá, o último da sua carreira".

Está no site GPUpdate, um dos bons: "Muita gente espera que Pérez seja anunciado como companheiro de Alonso. Mas informações que vêm de Maranello indicam que o espanhol defende Massa, para correr menos riscos".

Caso Massa renove, serão 13 anos em que o principal piloto do país na F-1 esteve na posição de subserviência ao companheiro -não serão 14 por causa de 2008, cada vez mais com ares de incidente.

Daí a impressão de não ser coincidência: 13 anos são suficientes para transformar costumes, hábitos, culturas. O brasileiro que começou a ver F-1 neste século não sabe o que é ter alguém lá na ponta. Torcedores já se acostumaram. A vontade foi esquecida. E isso pode influenciar gerações de pilotos.

A atitude de Massa já é produto dessa fase. Ele via Barrichello. E os que o veem hoje acham "normal" o que acontece. É um ciclo.

Foi significativo que, 40 anos depois de Emerson conquistar o primeiro título do Brasil, Massa, na mesma Monza, tenha dado passagem ao companheiro. E o pior: foi totalmente justificado, sem crise.

Foi "normal".

Triste nova normalidade.

GRANDE

Sid Watkins, morto anteontem, aos 84, foi dos principais personagens da história da F-1. Foi o responsável em parar com a carnificina e tornar o esporte o mais seguro possível. Ficará na memória.

fabio.seixas@grupofolha.com.br

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