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Nacionalização forçada de clubes completa 70 anos

HISTÓRIA Segunda Guerra levou times, como o Palmeiras, a trocar de nome

LUCAS REIS
DE SÃO PAULO

Há 70 anos, o Palestra Itália virou Palmeiras, ganhou do São Paulo e foi campeão.

O jogo do Pacaembu do dia 20 de setembro de 1942 é o episódio mais conhecido de um período opressor da ditadura Vargas, com perseguição a diretores e sócios estrangeiros dos clubes paulistas na 2ª Guerra Mundial.

Palmeiras e Corinthians, os times mais populares da cidade à época, sofreram mais. Ambos vinham da classe operária, um tinha Itália até no nome e o outro era composto por inúmeros entusiastas italianos, espanhóis, alemães, portugueses e árabes, membros da diretoria e sócios.

O Brasil mergulhava na guerra, e o Estado Novo de Getúlio Vargas gradualmente implantou um processo de nacionalização. Escolas, hospitais, empresas e clubes de origem alemã e italiana foram obrigados a trocar o nome e destituir membros e sócios estrangeiros, sob pena de intervenção direta e desapropriação de patrimônio. Não demorou e o veto abrangeu todos os estrangeiros.

"A perseguição passou a definir o conceito de espiões, súditos do Eixo, abarcando imigrantes e seus filhos. Era uma forma de o governo buscar o apoio popular. Vargas fazia o papel de defensor da pátria", afirma o historiador Alfredo Salun, doutor em história pela USP e autor de "Zé Carioca Vai à Guerra".

O Germânia foi um dos primeiros atingidos: o furor contra a Alemanha era maior, e o clube foi obrigado a se nacionalizar. Virou Pinheiros.

Mas o alvo principal desde sempre foi o Palestra Itália. "A diretoria do Palestra destituiu por vontade própria os dirigentes de origem italiana. Qualquer viés que denotasse ligação com os países do eixo abriria margem para o artifício de uma intervenção mais dura e desapropriação",a afirma Fernando Galuppo, historiador do Palmeiras.

O clube alterou seu estatuto e mudou de Società Sportiva para Sociedade Esportiva; depois, para Palestra de São Paulo. A pressão pela nacionalização do nome só diminuiria em 14 de setembro, quando o Palestra Itália finalmente virou Palmeiras.

Para atuarem fora da cidade, os times da capital eram obrigados a enviar ofícios ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social), e reuniões deveriam ser anunciadas com antecedência.

No Corinthians, associa-se a queda do então presidente, o espanhol Manuel Correcher, à pressão do governo Vargas. Mas o clube sofreu com intervenções de agentes em reuniões e foi obrigado a se desligar de quem não havia nascido no Brasil.

Em outubro de 1942, a "Folha da Noite" noticia que 120 sócios naturais dos países do eixo tiveram os seus direitos cassados no clube.

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