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Juca Kfouri

A nuzmania e os hermidas

É como a fábula da tartaruga e o escorpião. A vocação para o deslize é incontrolável

COMPROVADO QUE o roubo de informações do comitê de Londres-2012 não foi coisa inédita porque já havia acontecido no Pan-2007, a pergunta que fica é sobre o que mais precisa acontecer para que providências urgentes sejam tomadas para proteger o nosso dinheiro.

Será ingenuidade imaginar que atos como o de Rodrigo Hermida e de Bruno Olivieri, o primeiro seis anos atrás, o segundo agora, sejam fruto de iniciativa individual, acobertados que foram pelas chefias até serem descobertos.

Os escalões de baixo nada mais refletem que os de cima, e o que vem de cima não é nada recomendável, muito menos exemplar, a não ser como exemplo de como não se comportar. O funcionário que vê o chefão exigir benesses pessoais dos patrocinadores, os do COB ou do comitê da Rio-2016 -que se confundem sim, porque, como no Pan-2007, o presidente de ambos os órgãos é o mesmo-, tenta mostrar serviço do jeito que for, porque a ética está, por definição, expulsa da raia.

Quando vale tudo, tudo vale.

Vale até pular de um comitê a outro, caso de Hermida que, demitido no Pan, dirige hoje a área de voluntariado da Copa do Mundo de 2014.

Parece ironia, ou a piada pronta do Macaco Simão, porque Hermida, que virou apelido dos demitidos pelo escândalo londrino, chamados de "os hermidas", cuida de quem trabalhará de graça. Seu atual chefe, Ricardo Trade, o Baka, também sabia do envolvimento dele com o roubo de informações da EKS, porque trabalhou no mesmo comitê do Pan.

Aliás, quem não sabe?

Talvez José Maria Marin não soubesse, porque chegou outro dia, de paraquedas, mas quem participou dos Jogos Pan-Americanos, no Ministério do Esporte, inclusive, estava cansado de saber, o que revela a preocupante "nuzmania" de esconder tudo o quanto der, apesar das juras de transparência.

Os novos escândalos acontecem às vésperas de mais uma reeleição de Nuzman, no dia 5 de outubro, com o que ultrapassará duas décadas de reinado obscurantista no COB. Ora, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, tem repetido que a questão das reeleições não é mais discussão na sociedade brasileira, porque é consensual que deva haver limites, como para prefeitos, governadores e presidente da República.

Por que não aproveitar este momento e anunciar o fechamento da torneira do dinheiro público para as entidades que não se curvarem à vontade da sociedade brasileira, que paga a conta?

Assim têm se manifestado desde o deputado Romário até o movimento dos Atletas Pela Cidadania. Não há nada mais que justifique adiar a entrada em vigor de medidas saneadoras da parte do Estado nacional. Está óbvio que ou se faz agora ou viveremos quatro anos de vexames diante do mundo inteiro.

E a Copa e a Olimpíada sairão pela culatra.

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