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Jogo limpo

No Italiano, atacante avisa árbitro de que seu gol foi irregular, e lance acende discussão sobre
ética no futebol profissional

BRUNO BENEVIDES
RAFAEL VALENTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em meio à investigação sobre corrupção no futebol italiano, o atacante alemão Miroslav Klose ganhou as manchetes do país como exemplo de honestidade.

No jogo entre seu time, a Lazio, e o Napoli, o jogador teve um gol de mão validado quando a partida estava empatada em 0 a 0, mas avisou o árbitro sobre a irregularidade, e o tento foi anulado.

O lance aconteceu em duelo da última quarta-feira pelo Campeonato Italiano, com as duas equipes disputando a vice-liderança.

A Lazio acabou saindo de campo derrotada por 3 a 0.

"Essas coisas acontecem, fazem parte do jogo" afirma o professor de antropologia do esporte Luiz Henrique Toledo, da Universidade Federal de São Carlos.

Para ele, o caso não tem a ver com ética. "A questão não é de índole, não é de moral, é de competitividade."

O professor diz que a função de decidir se a jogada é válida é dos árbitros, não do jogador. Por isso, não se pode exigir esse tipo de atitude dos atletas. "Isso não combina com o jogo", resume.

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, preferiu parabenizar o atacante pelo lance.

"Bravo, Miro Klose, por seu gesto na última noite [quarta-feira passada]. Você mostrou que é possível ser um grande atleta e jogar limpo ao mesmo tempo" escreveu Blatter em seu Twitter.

"A bola realmente tocou na minha mão. Para mim, a coisa mais normal do mundo seria reconhecer isso ao árbitro", declarou Klose ao site da federação alemã.

O caso é raro, mas não é novo. O próprio atacante, o segundo maior artilheiro da história das Copas do Mundo, é reincidente.

Em uma partida do Campeonato Alemão em 2005, Klose, que atuava no Werder Bremen, entrou em campo contra o Arminia Bielefeld. O árbitro marcou pênalti quando o atacante se chocou com o goleiro rival, mas Klose avisou que não havia sofrido falta, e o lance foi anulado.

A Fifa, que promove campanha pelo "fair play" -ou jogo limpo- no futebol, já distribuiu prêmios para quem tomou atitudes semelhantes.

Um dos ganhadores é o italiano Paulo Di Canio (veja quadro ao lado). Em partida do Campeonato Inglês de 2001, o então atacante do West Ham se recusou a marcar um gol com o goleiro adversário machucado e caído no gramado. Por isso, recebeu a distinção da entidade máxima do esporte.

Foi uma reviravolta na carreira do atacante, que, três anos antes, havia sido suspenso por 11 jogos por empurrar um árbitro.

CIRCUNSTÂNCIAS

O professor Toledo argumenta que esse tipo de atitude deve ser contextualizada com o jogo e a carreira do atleta, que influenciam seu comportamento em campo.

No caso de Klose, ele aponta o fato do jogador já ser consagrado e estar no final da carreira podem tê-lo influenciado a tomar a atitude. "Queria ver alguém no começo da carreira fazendo isso."

O professor ainda considera que a importância do jogo também deve ser levada em conta. "Em uma final de Copa com a Alemanha, será que ele [Klose] teria feito o mesmo?", questiona.

Toledo aponta que é natural que esse tipo de atitude não seja comum no profissional. "O erro faz parte do futebol, rende narrativas, ajuda a discussão, a vender jornal."

Cita como exemplo o gol de mão de Maradona na Copa de 1986. Ou a bola que Henry ajeitou no braço no gol de Gallas na vitória da França contra a Irlanda que pôs os franceses no Mundial-2010.

"O jogo pode ser feito de várias maneiras, com malandragem ou sem."

Já a Itália espera que o gesto de Klose inspire o futebol do país, que está envolvido em escândalos de corrupção desde o ano passado, com armação de resultados para favorecer apostadores.

Por isso, quatro times iniciaram a primeira divisão com pontuação negativa. Nova audiência sobre o caso está marcada para o dia 20.

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