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Fábio Seixas

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Aposentadoria definitiva de Schumacher é bem diferente da primeira, mas ele merece reconhecimento

MONZA, dia 10 de setembro de 2006. O circuito começava a escutar "Fratelli d'Italia", àquela época quase um ritual pós-GPs, quando o Luca, funcionário da Ferrari, deixou o motorhome da equipe na correria, todo esbaforido.

Levava, sob o braço esquerdo, uma pilha de papéis recém-saídos da copiadora, ainda quentinhos. E, por acaso, absoluta e pura sorte, eu passava por ali. Trombamos.

Na base do reflexo, sem olhar pro lado ou desviar do caminho, Luca puxou uma folha e me entregou. E continuou, passos largos, apressados, em direção à sala de imprensa. Para espalhar a grande novidade. A bomba.

Daí que ali estava eu, sozinho naquele pedaço de paddock, com aquele folha na mão. Papel timbrado, as bordas vermelhas, o escudo do cavalinho rampante.

E o anúncio de que Schumacher, o maior vencedor de todos os tempos, se aposentaria.

Microfone da Rádio Bandeirantes na mão, liguei-o. Pedi licença ao narrador, Odinei Edson, e li, linha após linha, o comunicado. Na íntegra. A ocasião merecia.

Não sei se fui o primeiro do mundo a dar a notícia. Talvez tenha sido, pelo jeito como a coisa aconteceu. Isso não me importa. O que guardo é a sensação: não deu para não tremer na base.

Porque se é verdade que jornalistas temos que buscar a imparcialidade como o pão de cada dia, também é que não somos robôs. A emoção ali não foi por ser parcial, por torcer por Schumacher ou algo nessa linha. Mas foi por, após anos mergulhado naquele mundo, saber que uma era estava chegando ao fim.

As referências mudariam. O último elo com a geração que correu com Prost, Piquet, Senna e Mansell se quebrava. O "dream team" ferrarista se desmanchava de vez.

O que viria, então?

Veio uma era de campeões com pinta de adolescente e de um intenso rodízio no topo da categoria. Foram quatro vencedores diferentes nas últimas cinco temporadas.

Há talentos? Há, claro. Alonso, Hamilton, Vettel e Raikkonen são fora de série.

Mas ninguém, nem de perto, chegou a replicar a hegemonia de Schumacher.

Ontem, soube do anúncio pelo Twitter. Estava em Copacabana, a caminho do jornal. Circunstâncias diferentes, emoções diferentes, até pelo nonsense do seu retorno ao cockpit, três anos atrás.

Mas há uma semelhança, comparando o que o heptacampeão ainda é, perto do que os outros ainda são. Não me acanharia em repetir, hoje, o título da reportagem daquele 11 de setembro nesta Folha: "No topo, Schumacher anuncia adeus".

fabio.seixas@grupofolha.com.br

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