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Entrevista - Stephen Kiprotich

Agora sou conhecido, os adversários vão me ter como alvo

OURO EM LONDRES-12, CORREDOR DE UGANDA DISPUTOU SUA PRIMEIRA MARATONA COMO COELHO, AQUELE QUE PUXA OS COMPETIDORES

RODOLFO LUCENA
COLUNISTA DA FOLHA

A vitória na maratona olímpica revolucionou a vida de Stephen Kiprotich, 23.

O jovem corredor de Uganda conquistou nos Jogos de Londres o primeiro ouro olímpico de seu país após 40 anos.

Quando chegou a Uganda foi recebido pelo presidente Yoweri Museveni, que lhe deu um prêmio de quase R$ 160 mil e prometeu construir uma casa para seus pais, que moram em um barraco.

Ele ganhou mais prêmios em dinheiro de empresas, teve um estádio renomeado em sua homenagem e foi promovido em seu emprego, no sistema prisional de Uganda.

"Agora sou conhecido", diz em entrevista por e-mail à Folha, em que conta que correu sua primeira maratona como coelho (marcador de ritmo) e decidiu completá-la.

Folha - Como você começou a correr?
Stephen Kiprotich - Eu comecei a competir na escola primária, porque havia um atleta que eu admirava e que era um grande corredor.

Naquele período você sofreu vários problemas de saúde...
Quando criança, tinha muitos problemas estomacais, mas os médicos não conseguiram descobrir o que havia de errado. Um dia eles descobriram a maneira certa de me tratar. Por causa desses problemas, perdi quase quatro anos de estudos.

Quando voltou, começaram as vitórias...
Na escola primária, venci competições de 5.000 m e 10.000 m, foram os primeiros troféus que ganhei.

Por que resolveu mudar para o Quênia, onde treina?
Resolvi me mudar para o Quênia para ter parceiros de corridas mais fortes. Sabia que tinha capacidade de crescer e enfrentar outras disputas, mas para isso eu precisava ter um grupo de treinamento diferente.

Por que resolveu começar a correr maratonas?
A minha primeira maratona eu corri por acaso, em 2011. Até então, meu foco eram as competições de pistas e cross country. Então fui contratado para trabalhar como coelho (marcador de ritmo) na maratona de Enschede (Holanda).
O meu objetivo era levar os atletas até o km 30 e então abandonar. Mas eu me senti muito forte e prossegui. No km 32, de repente, me vi sozinho na liderança. Estava muito confortável e decidi terminar a corrida para ver o que significam 42 km [terminou em 2h07min20].

Como foi sua preparação para a maratona olímpica?
Treinei por seis meses. Após a maratona de Tóquio, em fevereiro, quando me classifiquei [2h07min50], estava totalmente focado. Meu objetivo era conquistar uma medalha, mas não tinha ideia de qual poderia ser a cor. Sabia que teria de lutar contras os quenianos e etíopes. Mas o meu período de treinamento foi tão bom que eu sabia que seria competitivo, então eu não tinha medo deles.

O que aconteceu na altura do km 30 da maratona olímpica, quando você passou a mão na coxa esquerda, parecendo sentir dor. Foi teatro?
Não. Naquela altura, eu comecei mesmo a sentir um pouco de dor na perna. Mas eu massageei o local e disse à minha perna: "Fique quieta, eu tenho um trabalho a fazer". E lembrei de orações.

O que pensou quando assumiu a liderança no km 37?
Apesar da dor, me senti muito confortável porque não havia pressão sobre mim. Todos os olhares estavam voltados para os quenianos e os etíopes. Nos últimos 5 km, sabia que a competição tinha acabado e que eu iria vencer. Lembrei de uma prova que eu havia corrido no meu começo como atleta, quando eu era a zebra e derrotei alguns dos mais fortes atletas de Uganda. Foi uma inspiração.

O que essa vitória mudou na sua vida?
Antes eu era um desconhecido, agora sou conhecido! A volta para Uganda foi um momento fantástico na minha vida. O presidente Museven estava me esperando. Houve muitas festas e eventos, cerimônias. Havia muito tempo que Uganda não tinha um ouro olímpico, 40 anos!

Quais são seus planos agora?
Quando comecei a correr, esperava ter um futuro brilhante. Hoje, só seis anos depois, sou um campeão olímpico. Preciso manter minha condição e melhorar, porque agora os adversários vão me ter como alvo.

A que atribui seu sucesso?
Eu venho de uma região montanhosa onde fazemos tudo caminhando. Além disso, sou muito determinado.

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