Índice geral Esporte
Esporte
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

José Roberto Torero

O trem dos onze

Onzes são velozes, correm em zigue-zague e têm uma forte patada. Não sobrevivem em cativeiro

Ontem, 11/11/11, foi o dia do ponta-esquerda. Lembra deles?
Eram uns sujeitos que jogavam com a camisa onze. Curiosamente, eram todos canhotos. Havia muitos por estas paragens, mas hoje trata-se de uma espécie em extinção.
Podiam ser de vários tipos. O mais lembrado é o driblador implacável. Sua maior diversão era deixar os laterais direitos no chão, provocando-lhes terríveis complexos de inferioridade e um ou outro suicídio. Talvez seu mais emblemático exemplar seja Canhoteiro. Desta nobre estirpe também foram Joãozinho, do Cruzeiro, e Zé Sérgio, um ambidestro que driblava para os dois lados, para cima e para baixo. Há ainda Edu, do Santos, que jogava com a bola tão grudada no pé que suspeitavam que engraxasse as chuteiras com cola; Mário Sérgio, que jogava com tanta leveza que não deixava pegadas na grama; e João Paulo, do Guarani, que dava dribles mais imprevisíveis que o caminho das cobras no chão, que o voo das águias no ar, que o humor das mulheres em dias de arenga. Ah, sim, e houve, por alguns dias, Júlio César, o Uri Gueller, que fez jogos inesquecíveis pelo Flamengo.
Outro tipo curioso era o velocista chispante, como Carlitos, que começou na zaga mas era tão rápido que foi para a ponta e virou o maior artilheiro da história do Internacional. Havia os táticos, como Zagallo, Paulo César Caju, Sávio e Lino, que mais compunham o meio de campo do que atacavam.
Havia os chutadores, como João Paulo, do Santos, e Éder, do Galo e de outros quinze times. Mas o maior desta raça foi Pepe, que furou redes, quebrou traves e chegou a nocautear um pobre zagueiro numa cobrança de falta.
E havia muitos outros, como Zezé, do Flu, como Lula, do Inter, como Jésum, do Bahia, como Aladim, do belo Coritiba dos anos 70, como Nei, do Palmeiras, como Paraná, do São Paulo, e como Bozó, daquele inesquecível Guarani campeão brasileiro em 78.
Os pontas esquerdos estão em extinção, mas há esperança. Assim como o mico-leão e o lobo guará, alguns podem ser encontrados por aí. Hoje temos Robinho e Neymar, curiosos pontas-esquerdas destros que caem pelo meio (aliás, será que vale a pena ter Neymar por mais dois anos e perder mais de R$ 50 milhões?). E recentemente tivemos Gil, no Corinthians, e Denílson, no São Paulo.
Os pontas-esquerdas são parte importante da nossa fauna futebolística, da biodiversidade boleira. Há que tratá-los com cuidado, para que se multipliquem e voltem a povoar os campos brasileiros. Vida longa aos onzes.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.