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Rita Siza

Não é um exagero

Um time só pode ser grande se sua torcida não esquece a moralidade. O resto vira exagero

A propósito das sete derrotas dos Texas Rangers no beisebol americano, o colunista do "New York Times" Ross Douthat dizia que são as derrotas, não as vitórias, que verdadeiramente unem os adeptos a seus clubes. O seu argumento era o de que só sofrimentos e desgostos monumentais, do tipo de "partir o coração", permitem à torcida viver plenamente a sua paixão e lealdade pelo clube.
Foi deste raciocínio que me lembrei ao ler as notícias sobre o escândalo no encobrimento de abusos sexuais que tomou conta da Penn State, a grande universidade estadual da Pensilvânia e que se destaca no panorama nacional pelo seu time de futebol americano -exemplar e vitorioso.
Só quando fui viver nos EUA me apercebi do fenómeno extraordinário que é o esporte universitário para os torcedores americanos. Em Washington, conheci muita gente que simpatizava com o DC United, o time de futebol, ou os Capitals do hóquei no gelo (nem tantos ligavam aos Nationals do beisebol). Mas conheci muitos mais que eram fanáticos dos Hoyas, o time de basquete da universidade de Georgetown.
Não me admira, portanto, que o caso tenha deixado em estado de choque não só a Pensilvânia mas todo o país. Parafraseando Douthat, imagino que todos aqueles que alguma vez se interessaram pelos Nittany Lions estejam de coração partido -deve ser realmente devastador, do ponto de vista emocional, ser confrontado com um escândalo tão escabroso.
Agora o que não compreendo são reacções como a que tiveram os estudantes da universidade, que se comportaram de forma mais irracional e violenta do que os "hooligans", numa defesa cega do técnico Joe Paterno, uma lenda viva do futebol americano universitário mas que foi despedido por ter pactuado com o encobrimento.
Se parassem para pensar dois segundos que fosse, certamente concluiriam que com a sua atitude estão a sancionar e legitimar os abusos hediondos que um painel de jurados não hesitou em mandar para julgamento. Segundo li na imprensa americana, "é difícil exagerar o significado da Penn State e do seu programa de futebol", que gera receitas de US$ 70 milhões por ano à universidade e faz a população da cidade triplicar nos dias de jogo.
Após ver que nas manifestações de apoio aos Lions não houve sequer uma palavra para as vítimas, acho que posso acrescentar um outro argumento ao raciocínio de Douthat: independentemente de como reage às vitórias ou derrotas no campo, só se a torcida não esquece a moralidade é que um time pode ser grande. Tudo o resto, ao contrário do que se possa pensar, vira exagero.

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