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Análise

Quebra do mito terá grande impacto no esporte sul-africano

S’BUSISO MSELEKU ESPECIAL PARA A FOLHA

Os sul-africanos em geral vivem muito divididos, quer em linhas políticas, esportivas ou culturais, mas nada jamais dividiu tanto a população do país quanto a história de Oscar Pistorius.

Desde a prisão do "Blade Runner" pelo homicídio de sua namorada, a modelo Reeva Steenkamp, as opiniões se dividiram ferozmente.

O fato é que Pistorius era um homem cultuado no país após se tornar o primeiro biamputado a disputar uma prova em igualdade de condições na Olimpíada. Não resta dúvida de que ele é um herói nacional (ou pelo menos era até 14 de fevereiro) e de que o prestígio era merecido.

Porém os eventos que seguiram o assassinato revelaram um lado sombrio de sua personalidade, oculto sob a glamourosa imagem criada para ele. E agora os sul-africanos estão ainda mais divididos: há os que já pedem que ele apodreça na cadeia e os que pedem julgamento justo.

A reação inicial da população foi obviamente de raiva, descrença e decepção.

A raiva derivava do fato de que o crime ocorreu no Dia dos Namorados, exatamente 10 anos depois que o corpo de Anene Booysen, 17, foi encontrado na cidadezinha de Bredasdorp, a cerca de 200 km da Cidade do Cabo.

Booysen havia sido estuprada e assassinada.

O crime chocou o país, e estatísticas revelaram não só que a África do Sul tinha o maior número de estupros em proporção à população entre os membros da Interpol -mais de 64,5 mil casos em 2011/2012-, como estavam disparando os crimes contra mulheres e crianças. O número de homicídios contra mulheres no país é cinco vezes maior que a média mundial.

Por isso houve protestos de grupos femininos diante do tribunal pedindo que Pistorius não fosse solto.

E temos também o mito ou a lenda de Oscar Pistorius.

Ele nasceu em 1986, sem as fíbulas e teve as duas pernas amputadas quando criança. Seus pais o encorajaram a levar uma vida ativa e praticar diferentes esportes.

Mas desde a prisão começou a emergir um lado sombrio de sua personalidade.

As autoridades encontraram uma caixa de seringas e medicamentos em sua casa. Há ainda outros incidentes:

1) Seu ataque de ira ao perder para o brasileiro Alan Oliveira na Paraolimpíada;

2) Uma internação após acidente de barco que lhe causou lesões graves em 2009 -garrafas de bebida foram encontradas no barco;

3) Após um amigo atropelar um pedestre, impediu jornalistas fotografarem "porque eu sou Oscar Pistorius";

4) Passou uma noite preso em 2009 acusado de assediar uma jovem de 19 anos;

5) Ameaçou "quebrar as pernas" de um empresário depois de acusá-lo de dormir com sua namorada.

E uma nova informação surgiu após o crime: o amor de Pistorius pelas armas de fogo. No mês passado, ele pediu licenças para espingardas, revólveres e fuzil.

Em depoimento nesta semana, Pistorius revelou ganhar US$ 651 mil ao ano.

O comitê olímpico da África do Sul e o Comitê Paraolímpico Internacional manifestaram choque e precaução ao falarem do assassinato.

Não importa que ponto de vista adotemos, o caso terá imenso impacto no esporte sul-africanos. Personagens como Pistorius não surgem todos os dias e é preciso tempo e perseverança para treinar alguém até esse nível.

Ele foi uma inspiração para muitas pessoas com deficiências ou não. Pelo menos até 14 de fevereiro.

S'BUSISO MSELEKU é editor de esportes do semanário sul-africano "City Press"

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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