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Rita Siza

Pânico na água

O 'Washington Post' publicou uma investigação sobre as mortes 'misteriosas' em provas de triatlo

Da primeira vez em que mergulhei para uma prova de triatlo, estava apreensiva. Fui das últimas a acabar, mas correu tudo bem. Da segunda vez, estava bem mais confiante. Foi um desastre: após vinte braçadas, pensei que me afogava. Tenho agora uma explicação para o que aconteceu, que, pelo visto, nada teve de original: ataque de pânico.

O "Washington Post" publicou nesta semana uma investigação sobre as mortes "misteriosas" (e, apesar de tudo, ainda relativamente raras) em provas de triatlo, um dos esportes mais populares para amadores e em franca expansão.

Ao contrário de quem se junta para jogar um futebol e se divertir, ou que faz um exercício que lhe permita manter a forma, quem treina para o triatlo está sempre a pensar em competição -não há, aliás, outra maneira de praticar a modalidade. Nos EUA, mais de 243 mil pessoas participaram de provas de triatlo em 2010, segundo a USA Triathlon, que nesse ano organizou mais de 2.500 eventos.

Ora, em 2010, houve nove pessoas que morreram logo nos primeiros minutos de competição, na água. A causa de morte foi sempre atribuída a afogamento, o que causava estranheza porque todos os atletas sabiam nadar, estavam fisicamente preparados para a prova e não sofriam de nenhum problema de saúde.

Antes deste, só um outro estudo tinha sido efetuado sobre as causas de morte em competições de triatlo. Especialistas da universidade do Minnesota analisaram 14 óbitos de atletas em prova, 13 dos quais ocorreram enquanto nadavam.

O que justificava então o mistério? A tese explorada é a de que estas pessoas tiveram ataques de pânico que se tornaram incapacitantes e, infelizmente, revelaram-se fatais. Como notavam os médicos, esses são episódios que não deixam vestígios anatômicos -portanto, não é possível estabelecer uma correlação científica entre a causa e a consequência. O maior risco de pânico, disseram os especialistas, ocorre na água, e não na bicicleta ou na corrida (que não estão isentos de riscos, de quedas a efeitos das temperaturas elevadas).

Alguns dos sintomas apontados no artigo eram perfeitamente familiares para mim. No lago do esplendoroso Parque Nacional do Shenandoah, onde se desenrolou a prova de natação de má memória para mim, tudo o que era bonito se tornou grotesco. Era o fato que parecia paralisar-me os movimentos, era a água gelada, negra de lodo e algas, eram os pontapés dos outros atletas ao meu lado... Mais do que pânico, lembro-me de sentir medo, um medo primordial, literalmente medo de morrer, como se, de repente, não soubesse nadar e fosse afogar-me. Por sorte, passou.

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