São Paulo, sábado, 01 de janeiro de 2011

Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros

RITA SIZA

Obrigada, Obikwelu


Ele mostrou que Portugal é capaz de garantir condições de alto nível e alcançar grandes feitos


O VELOCISTA PORTUGUÊS Francis Obikwelu, que conquistou a medalha de prata na prova dos 100 m dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, negou que tenha qualquer envolvimento com doping.
Obikwelu teve de se defender publicamente depois do seu nome ter aparecido na imprensa portuguesa e na espanhola associado ao do técnico e preparador físico Manuel Pascua, um dos alvos da megaoperação antidoping chamada Operación Galgo, da Espanha.
Segundo o jornal "El País", as autoridades espanholas interceptaram as conversas telefónicas de Pascua, que é um dos detidos na operação.
Numa delas, o treinador fala com um homem identificado como "um atleta africano", que recebe instruções sobre como diluir o doping.
Noutra ligação a mulher de Pascua, Maria José Martínez, que treinava Obikwelu, falava que "o Francis está amedrontado porque vai ser controlado hoje".
O atleta, que nunca teve um resultado positivo de uso de substâncias dopantes em toda a sua carreira, desmentiu tudo. "Nunca na vida fiz uma coisa dessas. Não sei por que estão a sair essas notícias sobre mim", confessou ao canal de televisão SIC Notícias.
A alegada participação de Obikwelu no esquema de doping ainda não foi sequer provada pela Justiça. No entanto, o público não perdeu tempo em julgar o esportista.
Obikwelu é um dos poucos membros do selecto clube de corredores do mundo que são capazes de percorrer os 100 m em menos de dez segundos.
Agora, já dizem que o atleta não é português porque nasceu na Nigéria, que ele é um aldrabão -é o que se lê nas caixas de comentários dos jornais nacionais.
Portugal é um país francamente generoso para com os ídolos do futebol que aqui se estabelecem, mas nem sempre atento aos praticantes de outras modalidades que escolhem vir para cá treinar e competir.
As emocionantes vitórias de Francis Obikwelu em Campeonatos Europeus, Mundiais e nos Jogos Olímpicos fizeram dele um herói nacional. E ele retribuiu o interesse e o carinho dos portugueses, mantendo-se sempre um competidor formidável, um homem grato e humilde.
Neste ocaso da sua carreira, e perante este acrescido desafio pessoal, o país devia recordar o contributo de Obikwelu, que demonstrou que um lugar pequeno como Portugal é capaz de se abrir aos outros, garantir-lhes condições do mais alto nível e alcançar grandes feitos.


Texto Anterior: Inglês: Equipes de Manchester disputam a ponta hoje
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.