São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2007

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Os fugazes cometas do futebol

Eles chegam prometendo brilhar intensamente e fazem uma grande partida. Porém, no dia seguinte...

U M DOS FENÔMENOS astrofutebolísticos mais curiosos do universo é o jogador-cometa. Certamente um deles já passou pelo seu time.
Eles chegam prometendo brilhar intensamente e realizam uma grande partida. Mostram habilidade e são uma promessa de grandes vitórias. Mas, quando você espera que o jogador-cometa brilhe no dia seguinte, como um rotineiro sol que se levanta todas as manhãs, onde está ele? Foi-se. Desapareceu. Apagou-se. Às vezes até está lá, no banco de reservas, mas se tornou obscuro, sem luz.
Os exemplos são muitos, muitíssimos. Mas é difícil lembrar deles. É da natureza dos jogadores-cometa serem esquecíveis. Eles são como aqueles companheiros de escola que você vê nas fotos antigas e nem imagina quem sejam. Num esforço de memória consegui lembrar de alguns, como Neizinho, do Santos. Lembra dele?
É provável que não. Só os santistas mais aficionados hão de lembrar. Era um centroavante rápido e houve um dia em que marcou três gols. Três! Depois disso? Ninguém sabe, ninguém viu. Parou de marcar, foi para o banco de reservas e desapareceu. Outro jogador-cometa foi Carlos Alberto Borges, no Palmeiras. Se bem que neste caso talvez seja mais correto dizer jogador-relâmpago, porque ele foi alvejado por um raio e desde então nunca mais foi o mesmo. E Vivinho, do Vasco?
Numa partida contra a Portuguesa pelo Campeonato Brasileiro de 1989, ele deu chapéus seguidos no volante Capitão. Foi uma jogada sensacional, reprisada à exaustão. Mas Vivinho não desabrochou. Só o que lembramos dele é apenas aquela jogada. O jogador-cometa tem um brilho fugaz. O pior é que esperamos rever esse brilho. Ficamos olhando para o céu ou, no caso, para o gramado, querendo reviver aquele momento em que presenciamos uma faísca de genialidade. Mas o jogador-cometa não brilha duas vezes.
Provavelmente o jogador-cometa tenta repetir tudo o que fez no mágico dia em que realizou seu grande jogo. Faz a barba do mesmo jeito, toma o mesmo café, sai à mesma hora de casa, usa a mesma cueca, mas não adianta. O milagre não se repete. Antes e depois daquele momento, ele é um jogador simples, comum. Às vezes, menos do que isso. Mas um dia, um único dia, ele foi capaz de uma jogada genial. O porquê de ele não conseguir repeti-la é que é o mistério. Talvez seja excesso de timidez, talvez falta de autoconfiança ou talvez aquele dia tenha sido um mero acaso, uma sorte. Ou um azar. Nós, os não-jogadores, também somos um tanto cometas.
Pense bem, deve ter um dia em que você olhou no espelho e afirmou "Puxa, nem pareço eu!", ou o dia em que suas piadas saíam com naturalidade, ou a inesquecível noite em que cantou no karaokê sem desafinar. De certa forma, o jogador-cometa é até uma metáfora da existência, já que a vida é mais ou menos como a única grande partida de um jogador. É um único momento de luz, de brilho, e depois voltam as trevas, o nada. Mas isso já não é assunto para uma coluna de futebol.

Não-corintianos felizes
Alberto Dualib conseguiu eleger seu candidato a presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians, o advogado Carlos Senger, por dois votos (178 a 176). E, por apenas 11 votos de diferença, a situação também elegeu sua chapa no Conselho de Orientação. Palmeirenses, santistas e são-paulinos ficaram muito contentes com essas notícias.

torero@uol.com.br


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